quarta-feira, abril 28, 2010

Para quem não lê com os olhos

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.iguana comendo folhas em um campo no PantanalPor mais estranho que pareça para um lagarto,
iguanas alimentam-se de vegetais e são ótimos nadadores.
Foto: © Daniel De Granville, 2006


Na postagem anterior do blog, deixei uma questão no ar: nenhuma das fotos tinha legenda. Mas será que não tinham mesmo? Vamos descobrir.

Em uma das listas de discussões que participo, sobre observação de aves, um dos membros – o Juan – é deficiente visual. Mesmo assim, é um observador de aves. Não com os olhos, mas principalmente com os ouvidos. É um dos chamados “escutadores”. Não vou me aprofundar neste assunto aqui, pois a Tietta já o abordou de maneira brilhante em seu blog (leia). Então, vou falar especificamente sobre fotografias.

Durante uma das conversas na lista, me veio o seguinte pensamento: quando se publica uma foto, o bom jornalismo ensina que sua legenda deve complementar – e não descrever – a imagem. Por exemplo, imagine a foto que abre esta postagem, de um iguana alimentando-se de folhas. Se eu colocar a legenda “iguana comendo folhas”, não acrescentei nada à foto e subestimei a inteligência do meu leitor – afinal, isto está lá na foto, ele está vendo o bicho comendo. Quer dizer: está vendo se não possuir uma deficiência visual. Mas e se não for o caso? E se ele for cego? Para navegar na internet, deficientes visuais utilizam programas de computador específicos, que são capazes de falar em voz alta o texto escrito na tela.

Daí surgiu o dilema: se eu coloco apenas uma legenda que complementa a foto (como fiz aí em cima), fica bem do ponto de vista jornalístico, mas não atende quem não pode ler com os olhos. Mas se eu coloco uma legenda óbvia, o leitor pode perder a chance de aprender mais sobre a imagem. Então, levantei a questão na lista e, com a ajuda de vários associados, cheguei a uma solução!

A maioria das páginas da internet é composta por uma mistura de textos, números e símbolos quase indecifráveis, chamados códigos html. Quem já mexeu um pouco com site ou blog já deve ter visto isto. Então, aprendi que dentro do html das fotos que coloco no meu blog, posso inserir um pedacinho adicional de código (chamados “tags”) que vai acrescentar uma legenda “invisível” – ou quase. Esta legenda, bem como a “oficial” da foto, pode ser lida pelo programa usado pelos deficientes visuais. Assim, a partir desta interessante conversa na lista de discussões, comecei a colocar duas legendas em cada uma das fotos que publico: uma tradicional, logo abaixo da imagem, e outra “oculta”, descritiva, dentro da foto.

Agora, volte na postagem anterior e coloque o ponteiro do mouse sobre qualquer uma das fotos. Pronto, lá apareceu um texto, é este que o programa de leitura de tela vai falar em voz alta!


joão-pinto (ou corrupião) em meio às flores do louro-brancoJoão-pinto ou corrupião: belas cores, lindo canto.
Um exemplo de ave fascinante tanto para
observadores como para escutadores.
Foto: © Daniel De Granville, 2006

Clique para ouvir o canto desta ave!
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quarta-feira, abril 21, 2010

Água, Paixão Nacional

(As fotos desta postagem não têm legenda?! Aguarde nosso próximo texto sobre acessibilidade no blog da Photo in Natura!)
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.Turistas passeiam de barco pelo Rio Mimoso em Bonito MS


Bobeei e deixei passar em branco uma data muito importante: o Dia Mundial da Água, celebrado no último 22 de março. Então, comemorando um mês deste evento e aproveitando os 510 anos da chegada das primeiras naus portuguesas pelo nosso mar, hoje vou falar sobre o quanto tenho sido influenciado pelo assunto ultimamente e as reflexões que isto traz no meu dia-a-dia.

Descendo de bote pela cachoeira do Rio Formoso em Bonito MS
Primeiro, o trabalho. Nas últimas duas semanas, após um período em que minhas câmeras e lentes tiveram um merecido descanso, fui fotografar para clientes aqui em Bonito, interagindo com dois dos meus rios favoritos: o Formoso e o Mimoso. O objetivo principal das fotografias era a produção de material promocional para sítios turísticos e meios de hospedagem da região. Precisei pensar sobre o que deve ser destacado em uma sessão de fotos para mostrar a sensação de "estar em Bonito". O que vem primeiro à sua cabeça quando pensa neste lugar? Águas cristalinas, aposto. E não é só você.

Brincadeira de briga de água em passeio pelo Rio Formoso em Bonito MS

A ABETA – Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura - realizou recentemente uma pesquisa inédita sobre o perfil do turista de aventura e do ecoturista no Brasil (PDF disponível aqui). Dentre muitas informações importantes, descobriu-se que 46% dos entrevistados afirmaram ser a água – cachoeiras, rios e mar - o item que mais valorizam no Brasil. Para ter uma ideia da força deste atrativo, os outros cinco itens somados atingem 33% (um destaque negativo, na minha opinião, foi que apenas 4% citaram nossa fauna, triste para um país de megadiversidade como o nosso, mas isto é tema para outra postagem).

Refrescando-se com um banho de cachoeira no Rio Mimoso

Ao conversar com os clientes que me contrataram para o serviço, estava o tempo todo com esta pesquisa em mente, e fiz questão de passar a informação a eles. Mas não parou por aí. Enquanto fotografava e tentava captar as emoções das pessoas nas imagens, comecei a refletir no quanto pode ser importante a experiência de alguém interagir com tanta riqueza natural e abundância de água cristalina, como acontece aqui. Na responsabilidade que os guias de turismo em especial, como eu, têm em sensibilizar as pessoas sobre a questão das águas. E na noção que estes turistas deveriam ter em associar esta vivência ao seu cotidiano, à lâmpada acesa à toa, ao banho demorado, à descarga desregulada, à torneira aberta enquanto lava os pratos ou escova os dentes, às folhas "sujas" sendo lavadas da calçada com a máquina de pressão, ao carro que precisa estar sempre com a lataria impecavelmente limpa. Precisa mesmo?

Mergulhando com peixes no Rio Olho D'Água em Jardim, MS
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quarta-feira, abril 07, 2010

Gatos: Novo Videoclip
da Photo in Natura

Nosso novo videoclip está no ar! Dois minutos com os gatos que compartilham conosco a casa e o escritório da Photo in Natura. Bom proveito : -)

(Com o YouTube dificultando demais as coisas, optei por disponibilizar os videos em dois outros servidores para sua escolha: Vimeo ou Yahoo! Vídeo). Pesoalmente, achei a qualidade do Vimeo bem melhor.





sexta-feira, abril 02, 2010

O dia em que eu ensinei
Indiana Jones a montar a cavalo

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.Poster do filme Indiana Jones... e eu tendo que dar aulas de montaria a ele...


Esta semana o blog bateu um recorde chato: o mais longo período sem postagens... Geralmente isto acontece quando estou no meio do mato sem acesso à internet, mas desta vez é porque tenho concentrado meus trabalhos no escritório. Nada muito empolgante para escrever, sentado aqui em frente ao monitor... Então, vamos compensar com uma postagem divertida contando uma história que aconteceu 14 anos atrás.

Era algum dia de 1996. Eu trabalhava no Refúgio Ecológico Caiman (Pantanal) quando recebemos a notícia de que o ator Harrison Ford viria passar uns dias hospedado com sua família. O agito foi enorme, tivemos de montar uma verdadeira operação estratégica para garantir o conforto e sossego de nosso ilustre Indiana Jones. Sabíamos que haviam passado por Bonito e sentiram-se meio incomodados com o assédio da imprensa e dos curiosos, então nossa responsabilidade era ainda maior.

Harrison Ford junto à equipe localNosso ilustre hóspede em meio à equipe da Caiman.
Foto de autoria desconhecida, 1996


Conosco não foi diferente: o telefone não parava de tocar, com direito a falsos jornalistas falando um inglês prá lá de macarrônico, dizendo-se “membro da equipe” do ator e solicitando autorização para entrar na fazenda. Outros se aglomeravam na porteira, esperando uma brecha para conseguir um furo de reportagem. Nada feito...

Como coordenador dos guias na época, fui designado a acompanhar Mr. Ford em suas saídas de campo. E então chegou o dia do passeio a cavalo!

Imagine a cena: Indiana Jones em cima de um cavalo pantaneiro, eu no chão ajeitando seus estribos e passando as instruções-padrão de segurança e procedimentos. Enquanto falava, meio constrangido com a situação surreal, me passava pela cabeça as imagens do nosso aventureiro-mor atravessando a galope pontes em chamas sob uma saraivada de flechas, sem nem se preocupar com o abismo quilométrico lá em baixo.

Meu pensamento foi interrompido subitamente por aquele sorrisinho de canto de boca que ele faz nos filmes, seguido da frase bem humorada: “rapaz, você está falando com um cowboy do Wyoming!”. Foi hilário, todos do grupo caíram na gargalhada (incluindo eu), mas tive que cumprir o protocolo para depois sairmos. Não a galope por pontes pegando fogo, mas cavalgando a passo pelos campos pantaneiros e observando os bichos. Foi um momento memorável, não apenas por eu estar conduzindo o caçador de arcas perdidas, mas pelo fato de Harrison Ford ser um conhecido conservacionista, que havia vindo ao Pantanal para ver suas belezas e auxiliar na sua proteção.

Deixando de lado o passado de intrépidas aventuras, é bom ver um personagem tão influente dedicado à conservação ambiental - pelo menos alguma coisa nós temos em comum :-)


Assista abaixo ao vídeo em que o ator depila o peito em prol da conservação de nossas florestas.
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(Postagem dedicada ao José Sabino!)
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