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Por incrível que possa parecer, sair de casa exclusivamente para fotografar era algo que eu não fazia há bastante tempo. A maior parte das minhas fotografias mais recentes tinha sido tirada nos poucos momentos propícios durante viagens como guia ou como instrutor em cursos, por exemplo. Mas hoje pela manhã foi diferente: não fui guiar, não fui ensinar. Fui só fotografar!
O programa já estava combinado havia dias com a Tietta e nosso grande amigo fotógrafo Ulisses Matandos. Independente dos resultados fotográficos, só isto já bastava para garantir a diversão do dia. Mas o local escolhido – o Buraco das Araras – dava mais certeza de que seria uma excelente manhã.
Nosso objetivo principal era conseguir boas imagens das araras em voo. Em um primeiro momento não parece uma foto complicada, até você começar a analisar as condições do local. O Buraco das Araras tem 100 metros de profundidade e 500 metros de circunferência, e é neste espaço enorme que voam as mais de cinqüenta araras-vermelhas do pedaço. Elas podem vir de qualquer lado, mergulhar em direção à cavidade ou passar sobre nossas cabeças. Daí surge a primeira dificuldade, com relação à fotometria. É isto que torna mais produtiva uma saída fotográfica como esta, pois faz o fotógrafo ter que pensar muito – e pensar rápido.
Se as araras viessem por cima, contra o céu, era necessário compensar para “mais” a leitura de luz da câmera, senão elas ficariam sub-expostas (escuras) na foto. Já se elas decidissem mergulhar pelo buraco, cujo fundo estava sombreado e escuro, a compensação tinha que ser para “menos”. Se o mergulho começasse pelo lado escuro e seguisse em direção à parte da cavidade iluminada pelo sol, as condições mudavam novamente em menos de 1 segundo. Além disto, precisávamos decidir se era melhor usar fotometria pontual ou ponderada, se valia mais a pena usar uma sensibilidade (ISO) alta para ganhar em velocidade de disparo e profundidade de campo mas sob risco de perder em definição, se deveríamos usar o foco automático somente no centro ou ativar todos os pontos de focagem da câmera, se era melhor manter o estabilizador da lente ligado ou desligado. Isso tudo enquanto as aves davam um espetáculo efêmero na nossa frente e o sol começava a ficar incomodamente forte.
De onde elas virão: de cima, de baixo, pelo
lado iluminado ou pela parte escura?!
Foto: © Daniel De Granville, 2009
lado iluminado ou pela parte escura?!
Foto: © Daniel De Granville, 2009
Decisões discutidas, tomadas e mudadas a cada voo, aqui estão algumas fotos que considero as mais interessantes do dia, entre as cerca de 200 que tirei. Cento e cinqüenta delas foram direto para a lixeira, mantive 50 que podem render algum proveito. No final das contas, sem dúvida valeu o dia!
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