quinta-feira, julho 30, 2009

Fotógrafo por Meio Dia

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A foto do dia!
Foto: © Daniel De Granville, 2009


Por incrível que possa parecer, sair de casa exclusivamente para fotografar era algo que eu não fazia há bastante tempo. A maior parte das minhas fotografias mais recentes tinha sido tirada nos poucos momentos propícios durante viagens como guia ou como instrutor em cursos, por exemplo. Mas hoje pela manhã foi diferente: não fui guiar, não fui ensinar. Fui só fotografar!

O programa já estava combinado havia dias com a Tietta e nosso grande amigo fotógrafo Ulisses Matandos. Independente dos resultados fotográficos, só isto já bastava para garantir a diversão do dia. Mas o local escolhido – o Buraco das Araras – dava mais certeza de que seria uma excelente manhã.

Voo em família
Foto: © Daniel De Granville, 2009

Nosso objetivo principal era conseguir boas imagens das araras em voo. Em um primeiro momento não parece uma foto complicada, até você começar a analisar as condições do local. O Buraco das Araras tem 100 metros de profundidade e 500 metros de circunferência, e é neste espaço enorme que voam as mais de cinqüenta araras-vermelhas do pedaço. Elas podem vir de qualquer lado, mergulhar em direção à cavidade ou passar sobre nossas cabeças. Daí surge a primeira dificuldade, com relação à fotometria. É isto que torna mais produtiva uma saída fotográfica como esta, pois faz o fotógrafo ter que pensar muito – e pensar rápido.

Dando mole para os fotógrafos
Foto: © Daniel De Granville, 2009

Se as araras viessem por cima, contra o céu, era necessário compensar para “mais” a leitura de luz da câmera, senão elas ficariam sub-expostas (escuras) na foto. Já se elas decidissem mergulhar pelo buraco, cujo fundo estava sombreado e escuro, a compensação tinha que ser para “menos”. Se o mergulho começasse pelo lado escuro e seguisse em direção à parte da cavidade iluminada pelo sol, as condições mudavam novamente em menos de 1 segundo. Além disto, precisávamos decidir se era melhor usar fotometria pontual ou ponderada, se valia mais a pena usar uma sensibilidade (ISO) alta para ganhar em velocidade de disparo e profundidade de campo mas sob risco de perder em definição, se deveríamos usar o foco automático somente no centro ou ativar todos os pontos de focagem da câmera, se era melhor manter o estabilizador da lente ligado ou desligado. Isso tudo enquanto as aves davam um espetáculo efêmero na nossa frente e o sol começava a ficar incomodamente forte.

De onde elas virão: de cima, de baixo, pelo
lado iluminado ou pela parte escura?!

Foto: © Daniel De Granville, 2009

Decisões discutidas, tomadas e mudadas a cada voo, aqui estão algumas fotos que considero as mais interessantes do dia, entre as cerca de 200 que tirei. Cento e cinqüenta delas foram direto para a lixeira, mantive 50 que podem render algum proveito. No final das contas, sem dúvida valeu o dia!

Namoro de arara
Foto: © Daniel De Granville, 2009

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segunda-feira, julho 27, 2009

Pestilências

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.A gente se protege o quanto pode quando está em campo...
Foto: © 2008 Tietta Pivatto


Ontem, noite gelada e chuvosa de domingo, vi na TV uma reportagem com um tal “Doutor Inseto”, personagem da National Geographic que viaja o mundo e ganha a vida sendo deliberadamente atacado por formigas, aranhas e taturanas. Como há alguns anos tive uma experiência muito dolorosa no Pantanal, semelhante à que ele provou na Amazônia ao ser picado por uma formiga tucanguira, me inspirei para a história de hoje.

Após anos de trabalho em ambientes naturais, seja como biólogo ou fotógrafo, torna-se parte da rotina o “assédio” de criaturas indesejáveis em busca de se defender da nossa presença ou de parasitar nossos corpos (em 2006 eu já tinha abordado o assunto em uma postagem sobre carrapatos e mosquitos). Desta vez vou relatar os nojentos parasitas internos que já me fizeram companhia nas minhas andanças pelo mato em busca de imagens bacanas.

BERNE
Já foram quatro (ou melhor, cinco...). Começou quando eu ainda era moleque, tinha uns 7 anos. Me apareceu um negócio esquisito na cabeça e ninguém sabia o que era. Acabei no hospital e o médico fez uma incisão, tirou o bicho de lá e deu ponto. Na época, com vergonha de assumir a cria, inventei uma história na escola de que havia caído da escada e cortado a cabeça... Anos depois veio o mais indiscreto de todos, na minha nádega direita. Isso mesmo, começou como uma coceira de carrapato que não sarava nunca, até a Tietta comprovar que era meu segundo berne. Desta vez, já escolado, nada de hospital: um bom pedaço de “Silver Tape“ sufocou o maldito, e Tietta fez o parto. O terceiro foi novamente na cabeça, durante os trabalhos no Pantanal com o Joel Sartore da National Geographic. Virou até história que foi publicada na seção “bastidores” da revista, em matéria de 2005! O quarto e o quinto nasceram juntos, gêmeos, ambos no meu queixo, há uns 2 anos. Éca!

Clique na imagem acima para ler o relato de Joel Sartore
sobre o meu berne mais famoso na National Geographic!
© 2005 National Geographic Society | Fotos: © 2003 Daniel De Granville


BICHO GEOGRÁFICO
Esse eu já perdi as contas de quantos foram. A cura também foi fácil, bastou colocar uma pedra de gelo sobre a região afetada para matar o bichinho. A não ser quando a infestação fica muito grande e assustadora, que até parece alguma coisa diferente. Aconteceu comigo da última vez: eu achava que era bicho geográfico, mas estava meio incômodo demais e acabei indo ao posto de saúde, apenas para constatar que era isso mesmo e me tranqüilizar. Éca de novo! O tratamento recomendado pelos médicos é com uma pomada de tiabendazol.

BICHO DE PÉ
O mais divertido de todos. Tive três vezes – paradoxalmente, um foi na palma da mão! Coça, coça, coça que só. É uma pulguinha que se enfia na sua pele, começa se alimentar e crescer com centenas de ovos no abdômen. O povo das áreas rurais usa uma agulha para cuidadosamente remover a danada da pele, deixando um buraquinho no lugar onde ela estava lhe devorando lentamente. Pela última vez: éca, éca, éca!!!

Fora esses parasitas repugnantes e pestilentos, já tive ataques de abelhas, vespas, cupins e várias outras criaturas enquanto fotografava. Felizmente, nada de onças ou cobras, por enquanto... Mas, sempre que a gente se depara com um situação dessas, temos que sublimar e lembrar que NÓS somos os forasteiros por lá – esses bichos “chatos” são tão parte da natureza quanto as belas aves e outros animais “bonitinhos” que adoramos fotografar e observar, portanto são merecedores da mesma admiração e respeito. Como o Joel Sartore me disse várias vezes quando estávamos no mato em situações miseráveis: “se fosse fácil, qualquer um faria”...


(Vale lembrar que jamais recomendo a automedicação – no caso de qualquer sintoma como os descritos acima, o correto é procurar assistência médica especializada)

Este é o berne da história da National Geogpraphic,
logo após o parto feito pela Tietta. Não é foto,
o bicho foi digitalizado diretamente no scanner!
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terça-feira, julho 21, 2009

Instituto SOS Pantanal


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.Capa do folheto de divulgação do Instituto SOS Pantanal
Fotos: © Daniel De Granville, 2006


“Informação e diálogo para um Pantanal sustentável”. Com este lema, foi anunciada oficialmente na semana passada a criação do Instituto SOS Pantanal, com o apoio de pessoas e instituições renomadas que têm longa história de trabalhos em defesa da região. Trazendo para o debate desde o início diversos segmentos envolvidos na gestão do Pantanal, como entidades ambientalistas, produtores rurais, empresas, universidades e o poder público, a iniciativa é muito promissora.

O primeiro resultado concreto da atuação da SOS Pantanal foi a publicação do mais recente e criterioso mapeamento da cobertura vegetal da Bacia do Alto Paraguai, com dados de 2002 a 2008, onde concluiu-se que a vegetação na planície pantaneira permanece intacta em 85% de sua área. Quando pensamos que outros biomas brasileiros – como a Mata Atlântica e até a Amazônia – já perderam porcentagens maiores de sua cobertura, a notícia é animadora, mas tem outro lado preocupante: dos planaltos adjacentes ao Pantanal só restam 40%, o resto já virou pasto, lavoura, canavial, carvão...

Paisagem de um Pantanal que todos queremos ver
Foto: © Daniel De Granville, 2009


Além do meu imenso apego e preocupação natural com a região, tenho especial apreço pela recém-criada entidade por pelo menos dois motivos: primeiro, por ter participado de quase todas as reuniões iniciais de criação do instituto, como intérprete e facilitador, em setembro do ano passado. Segundo, por ter tido o prazer de ceder, sem custos, as fotografias de minha autoria para produção dos materiais gráficos de divulgação. Cada um colabora como pode, e esta é uma das formas que tenho para ajudar o Pantanal: divulgando suas belezas e problemas através de imagens.
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