sexta-feira, abril 22, 2011

Jiboia para o Almoço

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Jiboia jiboiando...
Foto: © Daniel De Granville, 2011

Depois de dias atribulados, eu e Tietta finalmente havíamos conseguido um almoço sossegado, sem pressa, em plena Sexta-feira Santa. Tranquilidade absoluta nos arredores, nenhum som que não fosse da natureza, até que Tietta olha pela porta da cozinha e vê um bando de jacupembas agitadas, em comportamento suspeito. Arregala novamente os olhos, deixa a garfada de frango assado com macarrão no prato e rompe o silêncio: “OLHA O TAMANHO DESSA JIBOIA ESTICADA NO TRONCO!!!”.


Jiboia de olho no fotógrafo...
Foto: © Daniel De Granville, 2011

E assim termina nosso almoço sossegado, mas por um excelente motivo. Saio da mesa correndo para pegar a câmera e consigo fazer estas imagens, enquanto a passarada toda – bem-te-vis, sabiás-laranjeira e sanhaços-cinzentos – ficam de alerta, meio indignados por eu não ter feito nada para livrá-los daquela "terrível predadora"...

... e bem-te-vi de olho na predadora
Foto: © Daniel De Granville, 2011


Mas nem precisava de tanta correria, pois ela ficou “jiboiando” por alguns minutos antes de subir lentamente pela árvore seca e se enrolar lá em cima, em meio aos cipós, onde está até agora. Assim, terminei as fotos e deixei a bichona sossegada, enquanto voltava para terminar meu prato de comida, a esta hora já gelada.

De corpo inteiro.
Foto: © Daniel De Granville, 2011

Duas evidências me fazem acreditar que ela havia comido uma ave: a pena cinza debaixo de seu corpo e uma coisinha branca saindo do canto esquerdo da sua boca, parecendo a ponta de uma pluma.

E essa pena, seria o resto do almoço?!
Foto: © Daniel De Granville, 2011

Dou umas olhadelas pela janela enquanto escrevo estas linhas, pois daqui da minha mesa de trabalho dá pra ver o lugar onde a jiboia está escondida. Vai que ela decide pegar outro passarinho...

Vale lembrar que, embora muita gente tenha pavor de cobra, para nós elas são tão bem-vindas em nosso quintal como qualquer outro dos bichos "fofinhos" :-)

.: Leia mais sobre o assunto na postagem "Meu Jardim é Cheio de Bichos", de 2009 :.
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domingo, abril 17, 2011

Fotografando no Fim do Mundo

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Um simpático leão-marinho.
Foto: © Daniel De Granville, 2011

Foi um longo percurso desde a última postagem no blog, quando contei sobre minhas aventuras trabalhando no quase insuportável calor pantaneiro. Dias depois, lá estava eu embarcando junto com a Carol da Ambiental Expedições para guiarmos um grupo pela Terra do Fogo e El Calafate, na Patagônia Argentina. O título “fim do mundo” é como se auto-proclama a cidade de Ushuaia, situada às margens do Canal de Beagle, por onde Charles Darwin esteve em 1833.

Cordilheira dos Andes vista do
Canal de Beagle, na Terra do Fogo.
Foto: © Daniel De Granville, 2011

O roteiro, aproximadamente 10.500 km entre
Bonito - Campo Grande - São Paulo - Buenos Aires -
Ushuaia - El Calafate - São Paulo - Campo Grande - Bonito


Passamos 5 dias com temperaturas nunca acima dos 10 ºC e frequentemente abaixo de zero, com direito a neve e lagos congelados, paisagens de tirar o fôlego e animais que para mim eram ilustres desconhecidos, como os leões e lobos-marinhos, além de várias aves. Ainda não foi desta vez que consegui ver o pica-pau-de-magalhães, a maior espécie da América do Sul, endêmico da Patagônia. Também não vimos pinguins, pois não é mais a época deles estarem na região...

O fascinante Glaciar Perito Moreno.
Fotos: © Daniel De Granville, 2011


Mas, melhor do que escrever, é mostrar as imagens – e o melhor mesmo é que na próxima semana faremos este roteiro novamente com outro grupo. Então, se alguma foto não tiver saído como esperávamos, teremos uma segunda chance, coisa rara no mundo da fotografia de natureza – e quem sabe finalmente eu consigo ver (e fotografar!) o tal pica-pau... :-)

Neve distante...

... e neve bem ao lado!
Fotos: © Daniel De Granville, 2011


Fazendo a mãe de colchão!
Foto: © Daniel De Granville, 2011


Preguiiiiça...
Foto: © Daniel De Granville, 2011


Mais uma paisagem incrível com as cores do outono...

... e o único meio de transporte para chegar até ela!
Fotos: © Daniel De Granville, 2011
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quarta-feira, abril 06, 2011

Histórias Pantaneiras

A casa do Seu João está em algum lugar aí embaixo...
Foto: © Daniel De Granville, 2011


As sábias palavras e o semblante preocupado de “Seu” João, pantaneiro que vive com a família às margens do Rio Paraguai, não deixavam dúvidas: este ano a cheia no Pantanal vai ser grande. “Daqui uns dias nós vamos ter que montar acampamento e sair daqui, a água está chegando na porta de casa. Esta noite um jacaré e uma sucuri mataram duas das nossas melhores galinhas bem aqui na varanda, não deu nem tempo de fazer muita coisa. Pelo menos a galinha que o jacaré pegou nós conseguimos tirar da boca dele e vamos comer hoje, mas deste jeito fica difícil”, dizia.

Seu Getúlio e Sr. Tião, piloto e co-piloto
do avião que nos levou até a fazenda!
Foto: © Daniel De Granville, 2011


Em boa parte dos dez dias que passei no Pantanal (retornei ontem), percebi bem o que Seu João quis dizer: durante o curso “Capacitação para condução de observadores de aves no Pantanal”, que eu, Tietta e Vitinho ministramos em Miranda (MS), a chuva não interferiu em nada na nossa programação, mas o nível das águas pantaneiras era de se admirar. Na outra metade deste tempo, quando fiquei fotografando o trabalho de duas equipes de pesquisadores em uma reserva particular na fronteira de Mato Grosso do Sul com Mato Grosso e Bolívia, aí sim a água veio com tudo. O nível do Rio Paraguai subia da noite para o dia em frente ao nosso alojamento e as chuvas torrenciais nos ensopavam nos trabalhos de campo, mostrando que realmente esta estação das cheias vai ser intensa.

Estrutura minuciosamente planejada com a equipe de apoio
para eu poder fotografar os pesquisadores!
Foto: © Ale Bertassoni, 2011


Esta chuvarada toda, o calor intenso e a umidade absurda (fora as nuvens de mosquitos, claro) atrapalharam um pouco os trabalhos, com falhas no equipamento fotográfico e poucas possibilidades de boas fotos de paisagens. Dificultavam também a tarefa de subir e descer morros junto com os pesquisadores para documentar suas pesquisas de campo, com os 21 kg de equipamento que tive de carregar para poder fazer os registros adequadamente.

Às vezes o quadriciclo dava uma força
e era a única maneira de chegar a alguns lugares.
Foto: © Daniel De Granville, 2011



Já no final da expedição, quando tudo parecia mais sossegado,
entramos com nosso barco
nesta tempestade no Rio Paraguai.
Foto: © Daniel De Granville, 2011

Por outro lado, as chuvas me revelaram mais uma surpresa, das tantas que sempre presencio cada vez que vou ao Pantanal: cachoeiras nos paredões da Serra do Amolar e pequenas cascatas em córregos temporários que lembravam até algumas cenas da Mata Atlântica. Mas difícil mesmo (claro que nada comparado às situação do Seu João!) é voltar pra casa e fazer as pessoas acreditarem nas minhas histórias de cachoeiras, cascatas e escaladas de morros pedregosos em plena planície pantaneira...


Fotografando formigas!
Foto: © Ale Bertassoni, 2011


... e formigas devorando um falso-bicho-pau.
Foto: © Daniel De Granville, 2011
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