quinta-feira, junho 29, 2006

Sobre Ursos e Homens

Foto: divulgação


Hoje eu não vou falar de fotografia, mas sobre como e porque os ursos parecem estar em franca evidência nas últimas semanas - infelizmente por razões não muito positivas para o meio ambiente.

Recentemente foi lançado nos cinemas brasileiros o filme “Grizzly Man” (“O Homem Urso”), documentário do cineasta alemão Werner Herzog que conta a história do ambientalista estadunidense Timothy Treadwell. Durante 13 anos, todos os verões, Treadwell acampou e conviveu com ursos cinzentos em uma reserva do Alaska, até ser tragicamente devorado junto com sua namorada por um deles em 2003. Sua intenção era garantir a integridade dos animais e despertar a atenção da opinião pública sobre o risco que estes ursos supostamente corriam devido a ações humanas. Ainda que fosse uma figura polêmica e adotasse procedimentos questionáveis, do ponto de vista cinematográfico suas filmagens de natureza são incrivelmente belas.

Ironicamente, o urso mais famoso do país natal de Herzog – responsável por transformar em filme as sensacionais cenas captadas por Treadwell – foi morto por caçadores na semana passada. "Bruno", um urso selvagem proveniente de um programa de reintrodução no norte da Itália, acabou cruzando os Alpes e foi parar no sul da Alemanha. Em sua trajetória devorou ovelhas, coelhos e colméias de abelha, até as autoridades decidirem que era hora de pará-lo antes que atacasse algum humano. E assim matou-se mais um urso, a exemplo do que aconteceu com o outro, aquele que atacou Treadwell e sua companheira.

Ainda sobre ursos e homens, duas revistas muito conhecidas os mostraram com grande destaque em edições recentes. A Revista Veja da semana passada traz na capa a imagem de um urso polar para ilustrar matéria sobre os graves efeitos do aquecimento global. Fechando o ciclo e voltando para o Alaska ao qual Timothy Treadwell dedicou grande parte de sua vida até o final, a edição de maio da National Geographic também tem um urso polar na matéria de capa (cujas fotos, por sinal, são de Joel Sartore, com quem trabalhei no Pantanal em 2003). O tema? Conflitos de interesses entre conservação ambiental e desenvolvimento econômico na região.

Assim, em tempos de Copa do Mundo e quase véspera de eleições, graças aos ursos a mídia tem conseguido nos alertar sobre a delicada situação em que se encontram nossos ambientes naturais. Espero que consigamos entender o recado a tempo.

terça-feira, junho 27, 2006

Papos da Alemanha, Parte 3: Futebol

FOTO: © Daniel De Granville, 2006

Um dos motivos para a minha ida à Alemanha, dentro do Projeto “Macunaíma Besucht Bayern”, foi a realização da Copa do Mundo. Por isto, ainda que meu trabalho com fotografia seja essencialmente voltado à natureza, me senti no “dever” de registrar alguma coisa relacionada ao futebol (o que acabou me rendendo o convite para apresentar uma segunda exposição, no Muffathalle).

Foi assim que, através de contatos com conhecidos e o apoio imprescindível de amigos como o Christopher e o Arnold, consegui credenciais de imprensa para dois jogos do TSV 1860 München. Para quem não sabe, os “Leões” (como sua torcida os chama) são um dos times profissionais de Munique, ao lado do mundialmente conhecido Bayern München. O TSV é o time do “povão”, dos “sofredores” incondicionais que sonham com seu retorno à primeira divisão do futebol alemão (seu auge foi na década de 1960, quando foram campeões nacionais da liga principal).


Ingresso e credencial... | FOTO: © Daniel De Granville, 2006


O melhor de tudo? As duas equipes construíram juntas o Allianz Arena, estádio de futebol mais moderno do planeta, onde foi realizada a cerimônia de abertura da Copa. Ou seja, as partidas dos “Löwen” seriam lá!

Dia de jogo, chegamos de metrô no estádio, tudo muito organizado e civilizado. Na fila, revista geral dos seguranças, eu com os bolsos do colete lotados de lentes e outras tralhas (e sem falar alemão para poder me explicar...). Mas os caras são muito educados e falam inglês – bastou eu mostrar minha credencial de imprensa e a camiseta da seleção brasileira que estava vestindo por baixo e pronto! “Ok, you can go, enjoy the game!”. Vielen dank...

Agora eu precisava pegar o colete oficial que dava acesso ao gramado. O responsável me pede uma carteira de jornalista, explico que não tenho, que estou em um projeto cultural patrocinado pela Secretaria de Cultura da cidade. Ele diz que tudo bem, “pode ser outro documento, eu te devolvo quando você trouxer o colete de volta”. Ofereço meu passaporte, o cara acha que é muita responsabilidade ficar com tal documento. Acabo então entregando a minha carteirinha para ingresso no Balneário Municipal de Bonito. “Ah, este serve, perfeito!”.


FOTO: © Daniel De Granville, 2006


No gramado, após passar pela sala de imprensa onde havia um verdadeiro banquete à disposição, encontro vários outros fotógrafos alinhados com suas superteleobjetivas muuuuito mais potentes do que a minha. Uma fotógrafa alemã me pergunta: “nos estádios brasileiros, os torcedores são tão mal educados como os daqui”?? Ela só pode estar brincando...

Resumo do jogo, o TSV precisava desesperadamente da vitória pois corria risco de cair para a TERCEIRA divisão! Começaram bem, fizeram 1 a 0, tudo parecia caminhar para um final feliz. Mas eis que, aos 44 minutos do segundo tempo, num vacilo da defesa, os adversários empatam... E eu volto pra casa com várias imagens bacanas, inclusive uma foto do placar eletrônico onde aparece o TSV ganhando o jogo por 1x0. “Parabéns Daniel, esta é a cena mais rara que você conseguiu fotografar na Alemanha!”, foi a piada que ouvi dos sempre bem humorados Löwen Fans...


"Daniel na Cova dos Leões"


(Na próxima partida que fui semanas depois, os “Löwen” ganharam de 2 a 0 em um jogo sensacional, e pelo menos garantiram sua permanência na segunda divisão – acho que eu trouxe sorte...).

Abraço de leão após um empate com gosto de derrota... | FOTO: © Daniel De Granville, 2006

segunda-feira, junho 26, 2006

Papos da Alemanha, Parte 2: München Mag Dich

FOTO: © Daniel De Granville, 2006


Esta é uma foto que também foi bastante comentada e apreciada pelos visitantes da minha exposição em Munique. Por isto, achei interessante expor os detalhes dos bastidores por trás da sua execução, onde se pode tirar a lição do quanto temos que ser persistentes e criativos na procura de uma boa imagem.

Inicialmente eu estava determinado a fazer a foto da copa de uma árvore vista por cima, no início da manhã ou final da tarde, com a sua sombra projetada sobre a neve. Quase deixei todos loucos tentando conseguir o que precisava para obter a imagem: Um helicóptero? Um balão? Um guindaste? Uma torre de igreja no meio do nada? Um bando de aves embaixo da árvore, com suas sombras igualmente se projetando? Ou talvez alguns bávaros tocando o gado sob a sombra? Havia pouco tempo, muitas incertezas e custos envolvidos, portanto acabei desistindo da idéia inicial.

Algum tempo depois, estava fotografando a cidade em companhia da Juliana, uma amiga de longa data que atuou como minha assistente durante alguns trabalhos. Era meio da tarde, ela não estava se sentindo bem e não quis me acompanhar até o último lugar programado para visitarmos naquele dia, o Olympiapark (onde foram realizados os Jogos Olímpicos de 1972). Eu também quase desisti de ir, estava cansado e não acreditava que poderia conseguir alguma foto interessante por lá, mas acabei indo sozinho. Paguei 4 Euros para subir na torre que oferece uma vista panorâmica de Munique e dos Alpes, e fiquei surpreso ao conseguir quase que por acaso uma imagem parecida com a que eu queria, da árvore vista por cima. Foi uma foto muito complicada, pois havia uma proteção de vidro e o batente logo abaixo, eu tinha que ficar na ponta dos pés e esticar o pescoço para poder enquadrar a cena como queria.

Além da beleza plástica, esta foto fez sucesso pelo fato de mostrar um casal de mãos dadas formando a letra “M” de “Munique” (o slogan da cidade para esta Copa do Mundo é “MÜNCHEN MAG DICH” - algo como “Munique te Adora”).

sábado, junho 24, 2006

No Pantanal é assim...


Pantanal, alguém na escuta? | FOTO: © Daniel De Granville, 2006


Imagine-se acordando às três e meia da madrugada, tomando um café rápido e saindo – ainda no escuro – em um carro 4x4 tipo militar fabricado na década de 1940. O destino? Um lugar que você não sabe ainda se é possível chegar. Quando volta? Teoricamente hoje à noite, mas...

Por isto, traga tudo o que pode ser necessário: além do material “normal” de trabalho (no meu caso, toda a parafernália fotográfica), lembre-se da bateria reserva, macaco, corrente, lanterna, pedaços de tábua para desatolar o carro, pá, comida, redes de dormir, mosquiteiros, roupas, água, rádio, combustível, lona.



Mãe e filhote de veado-campeiro | FOTO: © Daniel De Granville, 2006


Pesadelo? Sacrifício? Não, é somente mais um sensacional dia fotografando o Pantanal! Estou baseado na Fazenda Rio Negro, logo após ter feito exatamente o programa descrito acima, realizando um trabalho de fotografia para a Conservação Internacional (CI-Brasil), onde registro as RPPNs da região para publicação de um catálogo. Hoje foi o último dia, quando fotografei os lugares que faltavam.



Atravessando o Pantanal no meio da noite... | FOTO: © Daniel De Granville, 2006


Sim, é trabalho, os dias são longos, é cansativo e exige muito espírito de aventura e bom humor. Mas propicia momentos indescritíveis, que me fazem sentir privilegiado e realizado. Primeiro, porque as paisagens e cenas e bichos que tenho a chance de ver são sensacionais. Segundo, porque as pessoas que tenho contato para realizar o trabalho são tão bacanas quanto o lugar! Passar horas longe de qualquer sinal de civilização, almoçando na beira de uma baía ao som das aves e contemplando a paisagem – tudo isto faz muito bem. Mesmo que na volta o carro atole na lama e eu seja devorado pelos mosquitos enquanto ajudo o companheiro a resolver a situação...



Devorando a "matula". Faltou a colher? Não tem problema, faz uma na hora com a folha do caraguatá. | FOTO: © Daniel De Granville, 2006



* Vale explicar que estas coisas acontecem apenas em ocasiões especiais de trabalho. Quem pretende visitar o Pantanal a passeio certamente receberá o mesmo tratamento hospitaleiro característico daqui, e ao mesmo tempo terá muito mais conforto para visitar a região com tranqüilidade e segurança.




FOTO: © Daniel De Granville, 2006

terça-feira, junho 20, 2006

Exposições em Andamento


Ministro da Cultura Gilberto Gil visitando a exposição em Munique (Foto: Ralf Tambke)


Este foi um mês bastante produtivo em termos de mostras do meu trabalho fotográfico. Realizei 3 exposições (2 na Alemanha e 1 no Brasil), além de uma galeria virtual e das novas Galerias do Mês no Fotograma. Confira abaixo:

Museum Für Völkerkunde (Munique) - Exposição do Projeto "Macunaíma Besucht Bayern", com 28 imagens retratando minhas experiências na Baviera e confrontando imagens de lá com cenas do Brasil - em especial Pantanal e Bonito (veja abaixo as fotos da exposição - ou clique aqui caso tenha dificuldades em visualizar).

Espaço Cultural Muffathalle (Munique) - Exposição do Projeto "Soccer Visions - One Game, Many Cultures", com 10 imagens contrastando cenas de jogos profissionais que fotografei no gramado do Allianz Arena (estádio da abertura da Copa do Mundo 2006) com cenas de futebol amador em Mato Grosso do Sul. Imagens em breve...

Avistar 2006
- Exposição com 06 fotos de aves brasileiras no I Encontro Brasileiro de Observação de Aves. Veja imagens do espaço da exposição.

Site "No Mínimo" - Galeria virtual com imagens que fiz durante o período que passei na Alemanha. Veja a galeria!


Em breve terei maiores informações sobre a programação para os próximos meses.

Abraços e até mais!

domingo, junho 18, 2006

Papos da Alemanha, Parte 1: Cachorros

FOTO: © Daniel De Granville, 2006

Como boa parte de vocês já sabe, eu voltei recentemente de uma temporada de 3 meses fotografando na Baviera, sul da Alemanha, a convite da Secretaria de Cultura de Munique. Para saber toda a história, clique aqui ou aqui ou aqui ou aqui.


Mas que eu pretendo nesta série “Papos da Alemanha” é compartilhar fatos e acontecimentos curiosos, começando pela peculiar posição “social” que os cachorros ocupam por lá. Inclusive me disseram que existem vários estudos científicos sobre esta relação, e uma das fotos mais apreciadas da minha exposição em Munique (e que por sinal ilustra este texto) tem como personagem principal um Pastor... ALEMÃO!

Pelo menos nesta cidade, cachorro entra em loja e restaurante, anda de trem (mas paga passagem!), nada no lago com o dono, passeia em Mercedes conversível. Na entrada dos parques urbanos, existem uns porta-saquinhos onde pode-se pegar uma sacolinha descartável com instruções passo-a-passo para recolher a caca do seu cãozinho.

Uma das minhas primeiras evidências sobre o assunto foi hilária. Praticamente toda manhã eu saía de casa antes do sol nascer para tirar fotos em um parque próximo, o Park Feldafing , quase sempre sob um frio muito abaixo de zero. Um dia eu estava fotografando com neve até os joelhos quando reparei em uma senhora gritando para seu cachorro, que tinha algo na boca: “AUS!! AUS!! AUS!! AUS!!”. Não, ela não estava latindo para o pulguento – ele apenas havia pegado algo que não poderia e ela ficava falando em alemão para ele colocar pra fora. Ou seja, foi minha primeira aula prática do idioma: “aus” = “fora”...

*PS: Em alemão, cachorros latem “wau wau” ou "wuff wuff”...

Finalmente no ar: O Blog do Fotograma!

Olá a todos,

Depois de muita ponderação, achei que finalmente era hora de tornar o Fotograma ainda mais dinâmico. Minha primeira iniciativa neste sentido foi no final do ano passado, quando fiz uma reformulação no site, mas ainda me pareceu pouco.

Com este blog, posso manter visitantes e amigos atualizados sobre meus trabalhos e idéias de uma maneira mais frequente e informal. Seja bem vindo(a)!