.
.
.
Sempre alerta!
Foto: © Daniel De Granville, 2009Meu primeiro contato com um urutau foi bastante inusitado, e de lá pra cá esta ave tem sempre me acompanhado com histórias marcantes.
Uns dois anos após eu ter ido morar no Pantanal em 1994, certo dia minha mãe telefona de nossa casa em Ribeirão Preto. Queria me contar sobre uma ave esquisita que havia se estabelecido na ponta do galho de uma árvore a poucos metros da janela de seu quarto, no sobrado onde morávamos. Ninguém sabia nada sobre o bicho, a não ser o Seu Pedro, vigia da rua que havia crescido na zona rural. Ele dizia que era a mãe-da-lua, conhecia seu canto, seus hábitos e lendas curiosas.
Meus pais estavam muito incomodados com o fato de que a ave estava chamando muita atenção, a ponto de algumas crianças da rua quererem jogar pedras para conferir se aquele toco era mesmo um bicho. Ligaram na Universidade local para oferecer apoio se algum aluno de biologia quisesse acompanhar a história. Não houve interesse. Então sugeri que a melhor maneira de proteger o bichinho seria tornando-o mais famoso ainda, ao invés de tentar escondê-lo e enxotar a molecada. Assim, entraram em contato com a televisão e no dia seguinte lá estava toda a equipe de reportagem filmando o “toco”, entrevistando minha mãe e – é claro – o Seu Pedro, afinal a identificação da espécie havia sido responsabilidade dele. Minha ideia funcionou: a partir daí o bicho virou celebridade, todo mundo parava na esquina de casa para ver a personalidade do bairro que havia saído na TV. Seu Pedro, todo orgulhoso, tornou-se o guia oficial dos observadores de aves do pedaço.
Mas afinal, por que decidi contar essa história hoje? É que, quase um ano depois de voltarmos a morar em Bonito, pela segunda vez temos a chance de acompanhar um ninho ativo de urutau (ou mãe-da-lua, como também é conhecido), o mesmo que fotografei e comentei nesta
postagem de dezembro passado. Para mim é mais uma comprovação prática de que a ave retorna ao mesmo local todo ano para fazer seu ninho. Ou melhor, botar seu ovo e criar o filhote, já que ninho mesmo eles não fazem não.
Sorria, você está sendo fotografado
Foto: © Daniel De Granville, 2009 E, a exemplo do urutau da casa de meus pais 13 anos atrás, este daqui também está ficando famoso. Afinal, uns dias atrás levei o
Luciano Candisani, amigo e premiado fotógrafo da National Geographic, para fotografar a cena. A história acabou saindo no
blog da revista, onde ele conta as aventuras de seu trabalho na natureza.
Agora estamos na torcida para que dentro de uns dias, assim como no ano passado, o filhote nasça e eu possa acompanhar e fotografar seu crescimento. Aguardem!