quinta-feira, julho 29, 2010

Documentário no Ar

Arte e Foto: © Daniel De Granville, 2007


Em 2007, quando estava cursando a pós-graduação em Jornalismo Científico na Unicamp (SP), eu e um grupo de colegas produzimos um documentário de 20 minutos sobre a Umbanda, religião afro-brasileira que tem forte relação com elementos da natureza. O título é “Ecos de Aruanda: um encontro entre religiosidade e conservação ambiental”.

A proposta do trabalho, parte da disciplina “Multimeios”, era criar um produto de mídia com a temática da educação ambiental. Nosso grupo optou por este formato exatamente pelo fato de nenhum de nós jamais ter trabalhado seriamente com vídeo, portanto a ideia do documentário seria um bom aprendizado para todos. No processo de pesquisa, conhecemos membros da Tenda Espírita de Umbanda Cosme e Damião, de Jundiaí (SP), que demonstrava lidar de forma diferenciada com os recursos naturais. As gravações foram realizadas em Jundiaí e na Serra do Japi, uma área de conservação municipal.

Finalmente conseguimos disponibilizar o material na internet, portanto seja bem vindo para assistir “Ecos de Aruanda” nas janelas abaixo ou através destes links: PARTE 1 | PARTE 2. Bom proveito!





DESCRIÇÃO:
Trabalho experimental realizado em 2007 na Serra do Japi (Jundiaí, SP), durante a disciplina "Oficina de Multimeios", integrante do curso de Especialização em Jornalismo Científico oferecido pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Labjor - Unicamp).

SINOPSE:
“A umbanda é freqüentemente associada à força dos orixás e às celebrações nos terreiros. O que nem sempre se destaca é sua forte ligação com a natureza, sendo comum em algumas regiões as oferendas dos rituais em áreas naturais. A prática é controversa, pois objetos como velas e alimentos, material que poderia trazer danos ao ambiente, às vezes são deixados para trás.

Neste documentário, umbandistas, autoridades e pesquisadores contam suas experiências e analisam a questão. O resultado é uma reflexão sobre como é possível a integração entre homem e natureza resguardando dois patrimônios nacionais: o natural e o cultural”.


CRIAÇÃO, PRODUÇÃO, ROTEIRO, FOTOGRAFIA E EDIÇÃO
:
Daniel De Granville | Daniela Lot | Denise Gaspar | Juliana Benchimol | Maria Lúcia Jacobini | Mateus Passos | Nereide Cerqueira | Paula de Oliveira | Paulo Martins

IMPORTANTE!
"Este documentário foi produzido com fins educacionais e é expressamente proibida sua cópia, reprodução, difusão, transmissão, utilização, modificação, venda, publicação, distribuição ou qualquer outro uso, na totalidade ou em parte, em qualquer tipo de suporte existente ou que venha a ser criado, sem a prévia autorização por escrito dos autores."

sábado, julho 24, 2010

Gente do bem, gente do mal

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.crianças lendo livros em cima de uma árvoreCrianças no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões
mais sofridas do país, desde cedo adquirem
o gosto pela leitura e o amor pelas árvores.
Foto: © Daniel De Granville, 2010


Terminou esta semana a quarta e última etapa de campo do meu trabalho para a Petrobras com o Canal Azul. Percorremos nove Estados brasileiros, passando por quatro dos seis grandes biomas de nosso país. Mais do que as distâncias e a diversidade, foi fascinante ver a quantidade de pessoas de bem dedicadas a fazer o bem Brasil afora. Gente como os idealizadores, coordenadores, funcionários e voluntários dos mais de 20 projetos socioambientais apoiados pela Petrobras que tivemos a oportunidade de vivenciar. Como conteudista encarregado das pautas, entrevistas e registros fotográficos, nesses 57 dias de campo eu pude conhecer muitos profissionais com vontade de propiciar uma vida melhor e um ambiente mais saudável para as comunidades de locais pobres, isolados e carentes. Cada destino revelava uma surpresa e a sensação de que ainda há sim esperança de um país mais sustentável, e que existem muitas pessoas dispostas a mudar seu jeito tradicional de pensar e de agir visando uma realidade mais bonita para todos.

Infelizmente, esta harmonia era quebrada nas vezes em que eu tinha acesso à internet e tempo para ver as notícias. Afinal, nestes três meses, entre maio – o começo das minhas viagens – e julho, pessoas do mal conspiraram fortemente contra os recursos naturais do nosso país. Gente como o Deputado Federal Aldo Rebelo e seu estupro ao Código Florestal, gente como a Senadora Kátia “Miss Desmatamento” Abreu com seus constantes e obsessivos surtos contra tudo que considera um impedimento ao lucro máximo e inconsequente de seu modelo de desenvolvimento, gente como os deputados que ofendem nosso bom-senso ao quererem esquartejar o Parque Nacional da Serra da Canastra, gente como os assassinos de onças-pintadas no Pantanal que contribuem imensamente para dizimar nossa já sofrida fauna nativa.

tamanduá bandeira atropeladoTamanduá-bandeira jaz à beira de uma rodovia
sul-matogrossense, cujo tráfego intensificou-se em função
do plantio de cana-de-açúcar para produção de etanol.
Foto: © Daniel De Granville, 2009


Em um mundo que há muito não se resume mais a mocinhos e bandidos, quem será que vai prevalecer: gente que pensa no coletivo, no futuro e na qualidade ambiental, ou gente que age sempre por interesse próprio, só pensa no agora e acha que floresta boa é floresta morta?

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domingo, julho 04, 2010

A Saga do Soldadinho do Araripe

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.Esse passarinho é tão importante que tem até
envelope e selo dos Correios em sua homenagem!
FONTE: henriquecolecionismo.blogspot.com


Na realidade, o título da postagem de hoje deveria ser no plural: as sagas. Afinal, vou contar a respeito da minha procura por esta ave e um pouco da bela história deste passarinho em si.

Na minha postagem de 16 de junho, comentei sobre a grande expectativa com a possibilidade de que, dali a dois dias, estivesse vendo o soldadinho-do-araripe ao vivo. Podia ser apenas mais uma nova espécie de ave que eu nunca tinha visto para acrescentar à minha lista (um “lifer”, no jargão passarinhológico), mas era muito mais do que isto.


PARTE I: O Soldadinho


Ilustração do soldadinho-do-araripe
Arte: © Michigan Science Art


Descoberta por pesquisadores apenas em 1996 e descrita cientificamente dois anos depois, desde muito cedo em sua existência oficial a espécie já era considerada ameaçada de extinção. Aparece, por exemplo, como “criticamente ameaçada” na lista oficial da IUCN (União Mundial para a Conservação da Natureza). Para se ter uma ideia, dentro da escala de seis graus de ameaça na qual uma espécie pode ser classificada, esta é a última antes da extinção. As principais causas que colocam o soldadinho-do-araripe em situação tão preocupante são a sua distribuição geográfica restrita – vive em uma área de apenas 28 km² na Chapada do Araripe, Ceará – e a destruição de seu já reduzido habitat.

Mas esta história tem quase tudo para um final feliz, graças a iniciativas de conservação lideradas por ornitólogos de renome como Ciro Albano e Weber Girão, cujos esforços têm sido de tal dimensão que até Sir David Attenborough - um dos mais renomados conservacionistas do planeta - adotou nosso soldadinho (saiba mais detalhes através dos links ao final desta postagem).


PARTE II: Eu e o Soldadinho

A fêmea deu as caras por alguns segundos...
Foto: © Daniel De Granville, 2010


Então que, ao receber as pautas dos próximos destinos que visitaríamos dentro do projeto para a Petrobras com o Canal Azul, aparecia lá: “Projeto de Agroflorestas em Crato, CE”. Imediatamente acendeu aquela lampadinha dentro da minha cabeça:“Ceará >> Crato >> Chapada do Araripe >> Soldadinho!”. Pegos meio de surpresa, ainda no meio do Pará e com limitações de comunicação, começamos a articular uma maneira de conseguir ver essa ave tão especial. O cronograma de trabalho, sempre apertado, em princípio não permitia esta atividade. Mas conseguimos uma brecha de meia manhã entre a gravação que fizemos às 5 horas e o voo que pegaríamos às 14.

Daí começaram os contatos com toda a turma que se dedica a conservar o soldadinho-do-araripe. O tempo era pouco, a época do ano não era a ideal e precisávamos aproveitar cada instante. Assim, tive que usar o instinto investigativo e começar a bombardear as pessoas com perguntas detalhadas e pentelhas, tipo: “há algum local específico onde as chances de ver a ave sejam maiores?”, “qual a distância?”, “condições de acesso? (terra? asfalto?)”, “tempo estimado?”, “horário de funcionamento?”, “as chances de observar o soldadinho nesta época do ano são boas?”, “qual horário da manhã?”, “é permitido/recomendável usar playback no local para esta espécie?”, “precisa de alguma autorização?”, “quanto custa?”, etc, etc, etc, tudo prontamente respondido por eles.

Dia 18 de junho, lá vamos eu e o Luiz (um dos caras sem o qual o Avistar não aconteceria!) direto das gravações do projeto para o Arajara Park, reserva particular que é um dos habitats do bichinho. A ocasião é para mim tão importante que decido estrear oficialmente minha nova câmera e lente que haviam vindo direto do Canadá! José Marcos, o funcionário de lá que sabe tudo sobre os hábitos do soldadinho, nos recebe muito bem e lá vamos nós para o mato.

Resumo da história: apesar de termos feito tudo como manda o protocolo, não foi desta vez. Ou, sendo mais positivo: foi 50%, pois conseguimos ver – de relance – a fêmea, que de coloração meio pardacenta não tem nem de perto a beleza vistosa do macho branco, vermelho e preto. As fotos ficaram ruins, mas serve como prova de que eu vi mais um "lifer" - e um que vale por cem!

... e no instante seguinte já sumiu no mato.
Foto: © Daniel De Granville, 2010


Nem cartão postal pra contar a história eu consegui trazer para a coleção da Tietta, já que o parque e sua lojinha estavam fechados à visitação neste dia, conseguimos entrar somente porque os proprietários abriram uma exceção...

Paisagem da Chapada do Araripe, a casa do soldadinho.
Foto: © Daniel De Granville, 2010


Mais um lugarzinho especial para nossa lista de “destinos a visitar com mais tempo” – podemos aproveitar e fazer uma parada na Serra da Canastra (antes que ela desapareça) ou na Chapada dos Veadeiros em busca do pato-mergulhão, outra ave rara e ameaçadíssima cujo habitat eu já visitei mas não consegui ver o bicho.

SAIBA MAIS:
>
Informações gerais sobre o soldadinho-do-araripe no WikiAves

>Artigo sobre o soldadinho no O Eco
>Matéria de capa sobre o soldadinho na revista Terra da Gente
>Vídeo do soldadinho macho no YouTube
>Vídeo da fêmea do soldadinho alimentando seus filhotes
>Sir David Attenborough premiando o soldadinho (texto em inglês)
>Ouça o canto do soldadinho-do-araripe (MP3)
>O soldadinho-do-araripe está até no mundo da moda!
>NOVO! Blog do soldadinho-do-araripe


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