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Um par de botos-cor-de-rosa nas águas turvas do Rio Negro.
Foto: © Daniel De Granville, 2010
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Um par de botos-cor-de-rosa nas águas turvas do Rio Negro.
Foto: © Daniel De Granville, 2010
Nossa viagem chegava à última etapa, teoricamente a mais fácil, pois – ao contrário dos destinos anteriores – tínhamos a certeza de que os animais estariam lá. Procurar aleatoriamente botos-cor-de-rosa nos rios amazônicos, mais ou menos como havíamos feito com as sucuris e arraias, é uma opção improdutiva e inviável. A imensidão dos corpos d’água, associada à turbidez natural (a visibilidade raramente passa de dois metros), tornam a tarefa praticamente impossível, a não ser que se organize uma expedição com muito tempo disponível, orçamento generoso e equipes grandes de trabalho, o que não era o nosso caso. Assim, optamos por um dos locais onde os botos habituaram-se gradualmente a aproximar-se de humanos, sendo atraídos com peixes*, e sua presença era praticamente garantida.
Foto: © Daniel De Granville, 2010
Até aí tudo bem, mas em que condições? Apesar de termos escolhido a dedo o local onde iríamos passar os próximos dias fotografando, com base em conversas com vários profissionais e levantamentos minuciosos que fiz previamente, nunca dá para prever todas as situações e adversidades. Alguns dos mais experientes fotógrafos de natureza com quem trabalhei adotam o seguinte lema (meio pessimista, mas realista): “hope for the best but expect the worst” (“desejando o melhor, mas esperando o pior”). Pode ficar nublado, pode chover, a água pode ficar suja, os bichos podem decidir não aparecer, o equipamento pode pifar, pode chegar uma leva de turistas para passar o dia todo no local, etc, etc... Se tudo desse certo, os quatro dias programados seriam mais do que o suficiente para fazer um bom trabalho. Mas, como reza a famosa Lei de Murphy: "Se alguma coisa pode dar errado, dará." :-)
O fotógrafo tem que ser rápido, pois com a água escura
os botos chegam de surpresa e o momento certo dura pouquíssimo...
Foto: © Daniel De Granville, 2010
os botos chegam de surpresa e o momento certo dura pouquíssimo...
Foto: © Daniel De Granville, 2010
Felizmente, só os prognósticos favoráveis se confirmaram, e assim passamos nossos próximos dias: no meio da Amazônia, mergulhando em águas turvas e quentes o suficiente para dispensar grande parte da parafernália necessária nos demais destinos que visitamos, como roupas de neoprene, cintos de lastro, cilindros de mergulho, etc. Não, a tarefa não foi tão fácil: a pouca visibilidade e a própria movimentação dos botos levantando sedimentos que turvavam mais ainda a água complicavam o trabalho. Mas, como você pode ver pelas fotos, conseguimos boas imagens. A viagem chegava ao fim, 21 dias depois do início em Bonito, e as demonstrações de satisfação de todos na equipe me deixavam com a certeza de que a missão fora cumprida. Hora de voltar para casa e começar a planejar a próxima viagem...
Os botos tornaram-se atrativo turístico
e fonte de renda para a comunidade.
Foto: © Daniel De Granville, 2010
e fonte de renda para a comunidade.
Foto: © Daniel De Granville, 2010
*A questão de atrair animais silvestres com alimentos é sempre polêmica, mas neste caso alguns detalhes ajudam a entender melhor o contexto. Estes grupos de botos aproximam-se de barcos de pesca interessados nos peixes – que são parte de sua dieta natural – ou por simples curiosidade. Algumas pessoas das comunidades locais vislumbraram aí uma oportunidade e começaram a atraí-los até locais determinados, onde montaram estruturas para receber turistas interessados em observar e interagir com os animais. Hoje contam com o apoio de pesquisadores que orientam como a atividade de alimentação e interação deve ser feita visando o mínimo impacto – ou seja, sem torná-los dependentes exclusivamente deste alimento, sem alterar demasiadamente seu comportamento e garantindo que os turistas entendam e absorvam estes conceitos. Pode não ser o ideal, mas em uma região que ainda luta para se desenvolver, onde as opções de renda são limitadas e onde os botos sofrem muitas ameaças graves – como a caça para uso como isca ou remoção de partes de seus corpos para produção de amuletos e remédios populares -, esta forma de exploração turística se revela uma alternativa válida de sustento.
Foto: © Daniel De Granville, 2010
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