sábado, agosto 23, 2008

Mergulhando com Botos na Amazônia

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.Um boto tenta engolir minha câmera!
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Manaus, uma da madrugada. Mais uma aventura – bem sucedida! – chega ao fim. Sentado em um confortável quarto de hotel, relembro bons e maus momentos destes 23 dias de expedição. Daqui a algumas horas pegaremos o vôo para São Paulo. Eu chego em casa logo, mas Amos Nachoum ainda tem um longo caminho a percorrer até San Francisco (EUA), onde fica apenas 5 dias e já parte para seu próximo destino: a costa do México, à procura de tubarões-brancos (aqueles do filme do Spielberg).

Hoje à tarde voltamos da última etapa da viagem pelo Brasil, fotografando botos-cor-de-rosa no município amazonense de Novo Airão. Para comemorar o sucesso da empreitada, cada um escolheu o que queria comer no jantar. Eu optei por um tradicional tacacá, Amos e John preferiram comida japonesa.

Jacaré improvisa um sashimi de cascudo
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Na postagem anterior, eu havia parado nas onças-pintadas. Nosso roteiro continuou por água, cada vez mais adentrando o Pantanal, onde procurávamos por cardumes de grandes piranhas em águas transparentes. Todas as dicas que havíamos colhido com conhecedores do assunto foram anotadas e seguidas à risca, porém nem sempre a natureza está pronta para nossos caprichos. Em resumo, o rio principal onde deságua o riacho que nós pretendíamos fotografar estava mais cheio que o habitual. Como conseqüência, o riacho estava praticamente sem correnteza, o que deixou suas águas turvas e seu leito bloqueado por enormes e quase impenetráveis ilhas de aguapés. Só encontramos um ponto interessante com água limpa já no meio da tarde, após cansativas horas procurando um acesso para nosso barco. Tudo preparado, era hora de achar as grandes piranhas. Só que elas simplesmente não estavam ali, pois segundo a equipe da Polícia Ambiental que nos apoiava, preferem os trechos rio abaixo – onde a água escura não permitia realizarmos o trabalho. Mais uma lição aprendida... Meio frustrados, mas com a certeza de que fizemos todos os esforços possíveis, voltamos ao alojamento.

A turma da Polícia Ambiental trabalhou duro...

... mas não conseguimos vencer este mar de aguapé
Fotos: © Daniel De Granville, 2008


Dia seguinte, pé na estrada o dia inteiro. Aliás, não só na estrada. O roteiro foi mais ou menos assim: (1) Duas horas de barco; (2) Cinco horas de carro; (3) Quatro horas de espera em aeroportos; (4) Cinco horas de vôo entre Campo Grande e Manaus. Começamos o dia em pleno Pantanal e terminamos na Amazônia.

Visitamos dois lugares onde os botos-cor-de-rosa se acostumaram com a presença humana e hoje são objetos de pesquisa, educação ambiental e até zooterapia. Para mim, o mais legal – além da incrível interação com os botos – foi fazer as primeiras incursões pela fotografia subaquática nestas condições de água turva. Melhor do que falar é mostrar os resultados pelas fotos.

Com a sensação de dever cumprido, é hora de pensar na próxima aventura. Mais notícias em breve!

Foto: © Daniel De Granville, 2008
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quarta-feira, agosto 20, 2008

OLHA A ONÇA!!! OLHA A ONÇA!!!

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. Lá vem ela...
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Na semana que passou, ouvimos esta empolgante expressão por nada menos do que sete vezes. Após o período em Bonito procurando sucuris, no dia 12 de agosto partimos para a Fazenda San Francisco, no Pantanal Sul, com o objetivo de encontrar e fotografar onças-pintadas. Uma vez que a força-tarefa empreendida em Bonito pelos amigos Juca, Fafe, Sérgio, Lawrence com sua equipe, a Polícia Ambiental e tantos outros foi tão bem sucedida (tivemos um saldo final de 16 encontros com sucuris em 12 dias!), as expectativas para a próxima etapa da viagem estavam lá em cima.

Chegamos na Fazenda meio apreensivos, sem saber exatamente como procederíamos para atingir nossa meta. Em uma viagem como esta, o tempo é sempre curto para cobrir temas tão específicos e imprevisíveis. Mas poucas horas depois de desembarcarmos, a nuvem de incertezas se dissipou: da carroceria de nossa caminhonete, Jacir e Dunda – nossos “homens-onça” durante o período – encontraram “Oreia”, um macho de onça-pintada que parece ser freqüentador assíduo do pedaço. Iluminado por nosso potente farolete, o bichão olhou, levantou-se calmamente, andou alguns metros e... deitou para tirar uma soneca! Aos poucos percebemos que a tal regra de “fazer o máximo de silêncio para não espantar os bichos”, como todas as outras, tem exceção. Não importa o quanto conversássemos ou disparássemos nossas câmeras e flashes, o Oreia não poderia se importar menos com nossa presença...

Cama de onça!
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Nos próximos dias o encontramos novamente por duas vezes em situações diferentes, além de avistarmos quatro outras onças – incluindo Dora com seu filhotão de cinco meses. Jacir sabe perfeitamente como procurar (e encontrar!) estes felinos. Através da análise de vários pontos das estradas da fazenda, onde espalha areia para registrar pegadas, ele consegue prever o padrão de deslocamento dos bichos e ir de encontro a eles. Simplesmente inacreditável.

Jacir em ação analisando pegadas de onça na areia
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Agora preciso desligar o computador, pois em breve nosso vôo pousa em Manaus. Amanhã estaremos no Rio Negro para a última etapa da viagem, fotografando botos-cor-de-rosa debaixo d’água. No próximo capítulo tem as histórias daqui da Amazônia e da busca por piranhas no Pantanal que terminou ontem, infelizmente não tão bem sucedida como as duas anteriores – coisas da fotografia de natureza...

"Se eu der um showzinho, quem sabe
esses caras vão embora logo?!"
Foto: © Daniel De Granville, 2008

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quinta-feira, agosto 07, 2008

Uma Dúzia de Sucuris

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.Já vimos esta e mais onze...
Foto: © Daniel De Granville, 2008


O nome já diz tudo: capim-navalha. Esta gramínea, abundante em áreas de brejo, tem folhas com bordas extremamente afiadas, onde um leve esbarrão com o dedo é o suficiente para ganhar um corte que parece ter sido feito por uma lâmina. Pois é este um dos ambientes prediletos da sucuri, a mais pesada e uma das maiores serpentes do mundo. Estou há uma semana em Bonito (MS) à procura delas, junto com o premiado fotógrafo israelense Amos Nachoum e seu entusiasmado aprendiz/assistente John.

Como se não bastasse o hábito peculiar de se esconder no meio das folhas cortantes, o período mais propício para encontrá-las é durante as horas mais quentes do dia, quando ficam expostas ao calor forte para se aquecerem. Ou seja, tenho passado os últimos dias subindo e descendo riachos e caminhando no meio do brejo lamacento debaixo do sol escaldante (o inverno passou longe daqui este ano). No final do dia os pés enrugados e brancos contrastam com as mãos e braços cheios de pequenos e inevitáveis cortes. A visão do paraíso é complementada por micuins (minúsculos carrapatos que mais parecem grãos de poeira ambulantes) e borrachudos sedentos. Nosso objetivo é conseguir imagens inéditas de sucuris – debaixo da água, de preferência. Hoje é o sétimo dia da expedição e já conseguimos encontrar doze “anacondas”, como elas são conhecidas em inglês. Mas ainda não temos as fotos que precisamos.

À noite as buscas continuam...
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Apesar das adversidades, dar de cara com as sucuris em um ambiente de paisagens maravilhosas - água cristalina cheia de peixes e vegetação com muitas aves coloridas completando o cenário - tem sido fascinante e compensa todo o esforço. Hoje tivemos o melhor encontro de toda a viagem: estávamos com o barco encalhado em uma forte corredeira, debaixo de uns troncos cheios de espinhos, quando John olha para trás e anuncia calmamente, com sotaque de gringo, mas falando em alto e bom português: “sucuri”...

Lá estava ela, majestosa, com alguma capivara azarada dentro do bucho, olhando para a gente sem entender muito bem aqueles malucos com roupas esquisitas e câmeras enormes invadindo sua intimidade. Quando nadou calmamente ao lado do nosso barco de seis metros, Amos, enterrado na lama até a cintura e rodeado por moitas do tal capim-navalha, fez os cálculos: “eu conseguia ver o corpo ao longo de todo o barco, o resto da cauda ainda ficava para trás e eu não conseguia enxergar a cabeça”. Agora é sua vez de estimar o comprimento da criatura. Quanto ao diâmetro, digamos assim: nem que tivesse um ataque de loucura e fosse tentar, eu não conseguiria abraçá-la.

Quem procura, acha.
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Amanhã a busca continua e na próxima semana é hora de deixarmos Bonito rumo ao Pantanal à procura de onças e piranhas, para depois seguirmos até a Amazônia, onde pretendemos fotografar botos-cor-de-rosa.

Sim, a foto ficou bacana!
Foto: © Daniel De Granville, 2008
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