segunda-feira, julho 27, 2009

Pestilências

.
.
.A gente se protege o quanto pode quando está em campo...
Foto: © 2008 Tietta Pivatto


Ontem, noite gelada e chuvosa de domingo, vi na TV uma reportagem com um tal “Doutor Inseto”, personagem da National Geographic que viaja o mundo e ganha a vida sendo deliberadamente atacado por formigas, aranhas e taturanas. Como há alguns anos tive uma experiência muito dolorosa no Pantanal, semelhante à que ele provou na Amazônia ao ser picado por uma formiga tucanguira, me inspirei para a história de hoje.

Após anos de trabalho em ambientes naturais, seja como biólogo ou fotógrafo, torna-se parte da rotina o “assédio” de criaturas indesejáveis em busca de se defender da nossa presença ou de parasitar nossos corpos (em 2006 eu já tinha abordado o assunto em uma postagem sobre carrapatos e mosquitos). Desta vez vou relatar os nojentos parasitas internos que já me fizeram companhia nas minhas andanças pelo mato em busca de imagens bacanas.

BERNE
Já foram quatro (ou melhor, cinco...). Começou quando eu ainda era moleque, tinha uns 7 anos. Me apareceu um negócio esquisito na cabeça e ninguém sabia o que era. Acabei no hospital e o médico fez uma incisão, tirou o bicho de lá e deu ponto. Na época, com vergonha de assumir a cria, inventei uma história na escola de que havia caído da escada e cortado a cabeça... Anos depois veio o mais indiscreto de todos, na minha nádega direita. Isso mesmo, começou como uma coceira de carrapato que não sarava nunca, até a Tietta comprovar que era meu segundo berne. Desta vez, já escolado, nada de hospital: um bom pedaço de “Silver Tape“ sufocou o maldito, e Tietta fez o parto. O terceiro foi novamente na cabeça, durante os trabalhos no Pantanal com o Joel Sartore da National Geographic. Virou até história que foi publicada na seção “bastidores” da revista, em matéria de 2005! O quarto e o quinto nasceram juntos, gêmeos, ambos no meu queixo, há uns 2 anos. Éca!

Clique na imagem acima para ler o relato de Joel Sartore
sobre o meu berne mais famoso na National Geographic!
© 2005 National Geographic Society | Fotos: © 2003 Daniel De Granville


BICHO GEOGRÁFICO
Esse eu já perdi as contas de quantos foram. A cura também foi fácil, bastou colocar uma pedra de gelo sobre a região afetada para matar o bichinho. A não ser quando a infestação fica muito grande e assustadora, que até parece alguma coisa diferente. Aconteceu comigo da última vez: eu achava que era bicho geográfico, mas estava meio incômodo demais e acabei indo ao posto de saúde, apenas para constatar que era isso mesmo e me tranqüilizar. Éca de novo! O tratamento recomendado pelos médicos é com uma pomada de tiabendazol.

BICHO DE PÉ
O mais divertido de todos. Tive três vezes – paradoxalmente, um foi na palma da mão! Coça, coça, coça que só. É uma pulguinha que se enfia na sua pele, começa se alimentar e crescer com centenas de ovos no abdômen. O povo das áreas rurais usa uma agulha para cuidadosamente remover a danada da pele, deixando um buraquinho no lugar onde ela estava lhe devorando lentamente. Pela última vez: éca, éca, éca!!!

Fora esses parasitas repugnantes e pestilentos, já tive ataques de abelhas, vespas, cupins e várias outras criaturas enquanto fotografava. Felizmente, nada de onças ou cobras, por enquanto... Mas, sempre que a gente se depara com um situação dessas, temos que sublimar e lembrar que NÓS somos os forasteiros por lá – esses bichos “chatos” são tão parte da natureza quanto as belas aves e outros animais “bonitinhos” que adoramos fotografar e observar, portanto são merecedores da mesma admiração e respeito. Como o Joel Sartore me disse várias vezes quando estávamos no mato em situações miseráveis: “se fosse fácil, qualquer um faria”...


(Vale lembrar que jamais recomendo a automedicação – no caso de qualquer sintoma como os descritos acima, o correto é procurar assistência médica especializada)

Este é o berne da história da National Geogpraphic,
logo após o parto feito pela Tietta. Não é foto,
o bicho foi digitalizado diretamente no scanner!
.
.
.

4 comentários:

  1. Como eu sempre digo, você é uma verdadeira placa de cultura ambulante!!!

    ResponderExcluir
  2. PQP, com todo o respeito, seu Micróbio Mor! Escanear o bicho foi demais pra minha cabeça!!! Éca elevada ao milhão, muleque!

    Fora essa fotinho nojenta, seu post me fez ter que correr pro banheiro, ri tanto que quase fiz pipi nas calças! E pela narrativa, não dá pra não imaginar as cenas.

    Agora conta aí como é que o segundo berne foi parar lá mesmo?

    Deixei um link pra este post lá no meu blog - pra alegrar o dia das pessoas!

    ResponderExcluir
  3. Adorei esse post do "assédio das criaturas"... rs
    Tenho que concordar com a Camila, pois escanear o berne foi demais pra minha cabeça. E pro meu estômago também.
    Nunca imaginei alguém colocando um berne no scanner. Você alimentou bem o bichinho, hein? rs

    ResponderExcluir
  4. Oi meninas, vocês têm que entender que naquela época - 2003 - câmera digital ainda era um sonho para nós. Ou seja: acho que, ao escanear aquele berne, fui um precursor da tecnologia digital para gerar imagem destes bichinhos, hehehe! Beijos e obrigado pelas visitas : -)

    ResponderExcluir