quarta-feira, dezembro 30, 2009

Pizza de Cupim

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.Hummm....
Foto: © Daniel De Granville, 2009


Os cupins são considerados uma praga quase que por unanimidade, tanto em ambientes urbanos como na zona rural. Causam estragos em megalópoles do porte de São Paulo, onde atacam construções e até estruturas de concreto nos prédios, ao passo que nas fazendas podem se proliferar nas pastagens de tal forma que trazem problemas aos produtores rurais. Por estes motivos, são sistematicamente eliminados na cidade por empresas especializadas, e no campo têm seus ninhos envenenados e removidos por tratores.

Pastagem dominada por cupinzeiros no Cerrado
Foto: © Daniel De Granville, 2009


Aqui em casa não é muito diferente. Frequentemente descubro algum pedaço do portão da entrada sendo devorado por eles, então decidimos fazer um “pacto”: eles comem minha madeira, eu uso a casa deles a meu favor. Foi assim que criamos um forno para assar pizzas em um cupinzeiro do quintal. Já tínhamos ouvido histórias semelhantes de antigos pantaneiros sobre esta utilidade, mas sem muitos detalhes. As informações na internet também eram muito escassas, então foi meio que “na raça” mesmo (cabe lembrar que, junto com um grupo de amigos, fizemos um forno semelhante 4 anos atrás, mas infelizmente ele acabou destruído).

"Desculpe o transtorno, estamos
trabalhando para melhor atendê-lo"
(construção do primeiro forno)
Foto: © Rakka C., 2006


Saboreie com os olhos o delicioso resultado desta nova invenção, que não pode ser enquadrada na categoria de “tecnoreciclagem”, mas talvez mereça o neologismo “ecoreciclagem”.

Obra pronta, só faltando inaugurar!
Foto: © Daniel De Granville, 2009


Lição do dia
: como tudo na natureza, estes insetos também têm seu lado bom e útil. Provavelmente a primeira lembrança que veio à sua cabeça foram nossos queridos tamanduás, cujo principal alimento são exatamente os cupins e as formigas, mas eles desempenham outro papel importante ao auxiliar na ciclagem de nutrientes do solo. Como o famoso naturalista David Attenborough menciona neste documentário, “provavelmente a floresta não sentirá muita falta se todos os humanos desaparecessem da face da Terra, mas seriam bastante prejudicadas se os milhões de cupins fossem eliminados de lá”.

Pronto para assar as pizzas!
Foto: © Daniel De Granville, 2009


E a ajuda dos cupins não se limita aos bichos: além deste forno rústico, antigamente era comum no Pantanal as pessoas fazerem os pisos de suas casas com o barro retirado dos cupinzeiros, às vezes misturado com as duras sementes da palmeira bocaiúva, que faziam a mesma função da brita no concreto. Recentemente eu ouvi que engenheiros estão estudando o eficiente sistema de ventilação interna dos ninhos de cupins, para construir prédios que sejam menos quentes e economizem eletricidade pela redução no uso de ar-condicionado.
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quinta-feira, dezembro 24, 2009

2 mil e 10!

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Chegou novamente o momento de desejar a todos uma ótima virada de ano. Portanto, na rápida postagem de hoje, ofereço o meu cartão virtual com uma mensagem de otimismo para nossa natureza. E fique ligado, pois muito em breve estará no ar o nosso novo site Photo in Natura, com conteúdo totalmente renovado e um banco de imagens com centenas de amostras para sua consulta. Abraços e muito obrigado por prestigiar o blog!


CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIARArte e fotos: © Daniel De Granville, 2009
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segunda-feira, dezembro 14, 2009

“Preciso fotografar esse carrapato!”

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.O fascinante momento em que uma cigarra eclode de seu exoesqueleto
Foto: © Daniel De Granville, 2009


O aprendizado na fotografia às vezes vem de uma forma que a gente nunca espera, e este é o tema da história de hoje.

Como provavelmente acontece com todo fotógrafo, conforme fui aprimorando meus conhecimentos passei a querer fazer fotos mais especiais, exclusivas, diferentes. O nível de qualidade das imagens publicadas em veículos como a prestigiada National Geographic parece subir a cada edição, aumentando a expectativa dos apreciadores de imagens da natureza e a pressão sobre os fotógrafos. Para se destacar neste meio, não basta tirar uma foto do bem-te-vi pousado em um galho sem fazer nada. Tem que mostrar algo diferente, seja no comportamento do animal, seja no ângulo escolhido, seja na raridade da espécie fotografada.

Assim, há alguns anos comecei a alimentar um certo “desprezo” por fotografar bichos comuns em situações comuns. Só queria o que fosse inédito, inusitado. Demorou um tempo até eu perceber o quanto estava enganado e errado ao assumir tal atitude. Mais precisamente, fui me ligar disto em 2005, quando produzimos o Guia de Campo de Bonito (não que a Tietta já não pegasse no meu pé muito antes disto, cobrando que eu fotografasse o urubu, o anu-preto, o sabiá-do-campo pousados “sem fazer nada”, mas eu não dava ouvidos).

Maria-fedida - ainda bem que ainda não dá
pra enviar cheiros pela internet...
Foto: © Daniel De Granville, 2009


Pois lá estávamos em abril daquele ano, definindo quais bichos e plantas iriam entrar no guia. De vários eu tinha fotografias, mas boa parte delas com uma visão “artística”, que não servia para mostrar detalhes da espécie aos usuários do livro. Ou seja, tive de dar o braço a torcer e começar a montar um arquivo com imagens que, mesmo não tendo qualquer característica que faziam delas belas fotos, teriam uma grande utilidade.

Agora a história começou novamente: a tiragem de 5.000 exemplares do Guia de Campo de Bonito está se esgotando, e em setembro passado decidimos que, ao invés de apenas reimprimir o mesmo livro, vamos produzir algo bem maior e abrangente. Lá vamos nós novamente, a mesma equipe, um outro projeto.

O Guia de Campo Pantanal & Bonito será a primeira publicação sobre estas regiões a cobrir grupos tão diversos como insetos, aracnídeos, crustáceos e fungos, além das tradicionais árvores e vertebrados geralmente abordados em livros deste tipo. Com cerca de 450 páginas, conteúdo bilíngue (português/inglês) e todos os cuidados para tornar a publicação confiável e prática de se usar em campo, estamos em fase de captação de recursos e acreditamos que até meados de 2011 teremos mais esta novidade no mercado!

Normalmente eu teria esmagado essa mutuca instintivamente enquanto
ela me sugava o sangue,mas esta colaborou tanto comigo
que ganhou a liberdade e será personagem do nosso guia!
Foto: © Daniel De Granville, 2009


Ou seja, ultimamente este fotógrafo de natureza que vos escreve tem passado horas e horas de suas noites capturando e fotografando vaga-lume, mutuca, grilo, besouro, caramujo na mesa da cozinha (caros convidados para o jantar, podem ficar tranquilos que eu limpo tudo direitinho depois : -).

Lição aprendida! Aliás, como a gente aprende (e ensina) fazendo essas coisas...
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quarta-feira, dezembro 09, 2009

Urutau 2.0

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.Taí um bichinho fácil de fotografar: confia plenamente em sua camuflagem e não se estressa, não foge, não dá a mínima pro fotógrafo...
Foto: © Daniel De Granville, 2009


Passarinho não usa relógio, não tem calendário na parede e nem GPS. Mesmo assim, pelo menos no caso deste urutau (que na realidade não é um pássaro, mas sim uma ave...), o sincronismo de seu ciclo reprodutivo e precisão na escolha do ninho são impressionantes.

Esta é minha terceira postagem sobre o assunto. A primeira foi na véspera do Natal de 2008, mostrando as fotografias que tirei do urutau com seu filhotão no dia anterior (23 de dezembro). A segunda foi há alguns dias, quando tive a notícia de que a ave havia retornado ao local (exatamente no mesmo toco da mesma árvore!) e parecia estar chocando um ovo. Prometi dar continuidade à história, então aqui vai.

... Desde que você consiga encontrá-lo perfeitamente camuflado
em cima de um toco seco : -)
Foto: © Daniel De Granville, 2009


As fotos que acompanham este texto foram tiradas ontem (08 de dezembro) e mostram o filhote, ainda pequeno, junto ao pai. Pelos meus cálculos, dentro de 15 dias este filhote vai estar do mesmo tamanho do suposto irmão mais velho, que então estará completando um ano. Veremos!
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