Formigas interagindo com pulgões em um ramo | FOTO: © Daniel De Granville, 2006
Tietta encontrou este texto no livro que está lendo atualmente, em sua reta final para concluir o Mestrado. Achou que tinha “tudo a ver com fotografia de natureza”, leu em inglês para mim e eu decidi traduzir para poder compartilhar com os visitantes do Blog do Fotograma.
Realmente, seu autor Edward O. Wilson (um dos maiores naturalistas da atualidade) consegue expressar muito do sentimento que tenho quando vou a campo fotografar. Ele fala sobre persistência, paciência, atenção, concentração, olhar criativo e até um pouco de sorte – praticamente tudo o que eu julgo necessário para “caçar” uma boa fotografia de natureza. Espero que apreciem a leitura!
"O Lugar Certo"
O naturalista é um caçador civilizado. Ele entra sozinho no campo ou na floresta e fecha sua mente para tudo exceto aquele momento e lugar, de forma que a vida ao seu redor pressiona todos os seus sentidos e os pequenos detalhes ganham mais e mais importância. Ele começa a sua busca para a qual o conhecimento foi projetado. Sua mente se desfoca e passa a focalizar tudo ao mesmo tempo, sem mais se dedicar a qualquer tarefa comum ou diversão. Ele avalia o vôo gracioso dos mosquitos em acasalamento formando um enxame em forma de cone, a inclinação dos raios de sol que o permite observá-los melhor, a modelagem precisa dos musgos e líquens no tronco da árvore que são irregularmente iluminados por estes raios. Seu olho viaja subindo pelo tronco até o primeiro galho e depois sai para um feixe de pequenos ramos com folhas e depois volta, à procura de alguma irregularidade no formato ou movimento de alguns poucos milímetros que possam denunciar um animal em seu esconderijo. Ele fica à escuta de qualquer som que quebre os prolongados encantos do silêncio. De tempo em tempo ele traduz suas impressões presentes de olfato e solo e vegetação para o pensamento racional: o antigo cérebro olfativo fala com o córtex moderno. O caçador-naturalista sabe que ele não sabe o que vai acontecer. Ele é requisitado, como Ortega y Gasset expressou, a desenvolver uma atenção diferente e superior, “uma atenção que não consiste em fixar-se na presunção, mas consiste precisamente em não presumir nada e em evitar a distração”.
Edward O. Wilson, em “Biophilia, The human bond with other species” (p. 103).
Pata de lagartixa | FOTO: © Daniel De Granville, 2006
Adorei o texto,
ResponderExcluirSe aproxima de uma visão "haikaista" poética.
Engraçado como esse olhar naturalista é diferente do "olhar produzido' de algumas fotos e documentários que a gente vê por ai.
Esse mesmo, recente, sobra a hápia e o preguiça.
Tem uma estranheza ali na montagem.