quarta-feira, dezembro 24, 2008

Feliz Urutau!

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.A imagem de um urutau com seu filhote
foi meu melhor presente de Natal!
Foto: © Daniel De Granville, 2008



Após a despedida da Serra do Japi e 15 horas de estrada, chegamos na nossa nova casa em Bonito num início de noite, logo após o pôr-do-sol. Além do calor, a primeira e mais marcante impressão foi a paisagem sonora, dominada pelo quase ensurdecedor chamado das cigarras. Na árvore mais perto da porta de entrada, uma corujinha-do-mato também nos dava as boas vindas.

A manhã seguinte veio mostrar que eu precisava achar urgentemente minhas câmeras e lentes, em meio às pilhas e mais pilhas de caixas que vieram com a mudança. O canto das aves, em especial gralhas, nos acordou. Ao longo do primeiro dia, pelo menos três lagartos-teiú – um deles com mais de 1 metro – passearam calmamente pelo nosso jardim, parecendo nem se importar com nossa presença. Durante a semana vieram mais coisas, inclusive uma família de quatis no quintal e uma inofensiva cobra-cipó que decidiu conhecer nosso vaso sanitário (!).

Na atual postagem do blog apresento duas das primeiras fotos desta nova fase, na expectativa de que muito mais coisas virão. Uma delas (chopim) foi tirada da nossa varanda; a outra (do urutau) na casa de uns amigos a apenas 3 km daqui. Só pude registrar a cena incomum graças à gentileza destes amigos em me avisar da presença da ave com seu filhote em uma árvore de seu jardim e abrirem as portas de sua casa para que eu pudesse fotografar. Um presentão de Natal!

Se a nossa varanda na Serra do Japi já oferecia inúmeras oportunidades de fotos para os meus momentos de fotógrafo preguiçoso, acredito que aqui em Bonito não será diferente :-)


Chopim comendo marmelo
na frente da porta de casa,
a primeira imagem que fiz ao chegar por aqui.
Foto: © Daniel De Granville, 2008

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terça-feira, dezembro 09, 2008

Entrevista para o Jornal de Jundiaí

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.Aproveitando para lhes enviar meu cartão de final de ano!
Foto e arte: © Daniel De Granville, 2008


Esta semana fui entrevistado pela jornalista Paula Mestrinel, do Jornal de Jundiaí (o maior da cidade) sobre minha carreira fotográfica, em matéria intitulada "Fotografia com sotaque bem brasileiro". Além da versão impressa, a versão online está disponível aqui.
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quarta-feira, novembro 26, 2008

Bonito, hein?!

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.Morro da Serra do Japi refletido
em uma gota d'água na flor do Agapanto
Foto: © Daniel De Granville, 2008



Quase dois anos se passaram desde que eu saí de Bonito e retornei a São Paulo para minha pós-graduação em Jornalismo Científico pela Unicamp. Terminei o curso há alguns meses e agora optamos por mudanças, uma espécie de “volta ao passado”.

Assim, antes do final deste ano estamos deixando a Serra do Japi retornando a Bonito, em Mato Grosso do Sul, onde vivemos por quase 8 anos. Os projetos, objetivos profissionais e trabalhos continuam os mesmos: fotografia, meio ambiente, ecoturismo e educação. Só que agora, associados a uma especialização na área de jornalismo!

Em breve, mais novidades de imagens desta nova etapa em nossas vidas.


Bonito é a terra da guavira,
um dos frutos mais típicos da região
Foto: © Daniel De Granville, 2008

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quarta-feira, novembro 05, 2008

Batendo Asas em Bonito

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.Atividade de campo complementando a teoria
Foto: © Daniel De Granville, 2008


“É incrível como a gente mora e trabalha aqui há anos, mas nunca reparamos nestas aves que estão aqui ao nosso lado todo dia”. Este foi um comentário recorrente dos alunos do Curso de Observação de Aves que ministramos em Bonito (MS) na semana passada.

Direcionado principalmente aos guias de turismo locais, o curso contou com 18 participantes e teve um workshop paralelo voltado aos operadores de turismo, proprietários de meios de hospedagem e sítios turísticos. No total, entre alunos, profissionais inscritos no workshop e outros interessados, cerca de 40 pessoas participaram ao menos de alguma das atividades oferecidas.

O sorteio de 12 guias de campo para os alunos fez sucesso!
Foto: © Daniel De Granville, 2008


A programação incluiu temas como condução de grupos de observadores de aves, técnicas de identificação de aves em campo, equipamentos necessários, paisagens sonoras, jardim das aves e outros. Além de Daniel De Granville e Tietta Pivatto, instrutores da Photo in Natura, palestrantes convidados como Vivian Ribeiro-Batista (Doutora em Botânica) e Fernanda Melo (Ornitóloga e guia especialista em Observação de Aves) acrescentaram experiências importantes ao conteúdo oferecido. O workshop mostrou a importância em se encorajar investimentos em estrutura para receber observadores de aves, um público que necessita de atendimento diferenciado.

Foram sete dias de trabalho, com aulas teóricas no período noturno e saídas de campo pela manhã, durante as quais foram observadas 161 espécies de aves. As visitas incluíram ambientes de ambiente urbano, mata ciliar, cerrados, banhados e Pantanal.

Artur Sutil, um dos guias participantes, admite que nunca tinha prestado muita atenção nas aves e agora está apaixonado pela atividade. “Depois do primeiro dia do curso, eu estava em casa quando minha mãe começou a conversar comigo. No meio do papo eu ouvi uns passarinhos cantando lá fora no quintal e logo chamei a atenção dela, saí para ver quem estava fazendo aqueles sons. Ela não entendeu nada e achou que eu estava ficando doido”, diz, bem humorado.

Uma raridade observada durante saída de campo: um anu preto
com perda de cor, fenômeno conhecido como arlequinismo
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Outros profissionais, como Taís Campos e Fernanda Reverdito (ambas nascidas em Bonito), afirmam que já procuravam mostrar as aves seus turistas enquanto guiavam os passeios regulares, mas após o curso sentem-se mais seguras para promover a atividade a clientes interessados. Ulli Braun, alemão radicado em Bonito trabalhando como intérprete, considerou importante a ênfase nos nomes científicos, pois “ajudam muito no aprendizado”. Os guias Pedro Hardt e Miguel Ferreira ficaram fascinados pelo canto das aves, algo que nunca deram muita atenção e que despertou neles uma nova sensibilidade junto aos ambientes naturais.

A observação de aves, atividade já bastante difundida em países da Europa e América do Norte e que vem ganhando cada vez mais adeptos no Brasil, é comprovadamente uma ótima ferramenta para aumentar o interesse das pessoas pela natureza, gerar emprego e renda e fomentar a conservação dos ambientes naturais. Em Bonito, as próximas etapas sugeridas pelos participantes e instrutores incluem a definição de uma ave-símbolo para o município, a criação do Dia Municipal das Aves e a realização de novos cursos nos mesmos moldes, tanto para os já iniciados no tema como para os praticantes novatos, dentro do conceito de se criar uma “cultura das aves” junto à comunidade.

O belo Udu, um forte candidato a Ave-Símbolo de Bonito!
Foto: © Daniel De Granville, 2005


A região de Bonito oferece ótimo potencial para esta modalidade turística, já que possui algumas aves difíceis de se encontrar em outros locais e bastante valorizados pelos observadores, como o udu e o periquitinho-da-serra; espécies típicas do Cerrado, como a gralha-do-campo e até mesmo a popular seriema; e algumas que só ocorrem em matas ciliares, como o soldadinho e o fura-barreira. A estrutura da cidade hoje já permitiria a operação experimental de roteiros de observação, atividade que pode ser realizada em paralelo aos passeios regulares e em qualquer época do ano, melhorando a questão da sazonalidade. É hora de arregaçarmos as mangas e as aves abrirem suas asas!


Gralha-do-Campo, espécie que só ocorre no Cerrado
Foto: © Daniel De Granville, 2008



SAIBA MAIS SOBRE AS AVES DE BONITO E REGIÃO:


Observando Aves no Planalto da Bodoquena, por Tietta Pivatto


Lista de Aves do Planalto da Bodoquena (PDF para download)

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quarta-feira, outubro 29, 2008

Meu Segundo Livro!

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.Corredor de vegetação que conecta o
Reservatório de Itaipu ao Parque Nacional do Iguaçu,
imagem que faz parte do livro
Foto: © Daniel De Granville, 2007


Acaba de ser lançado o livro “Água Boa: a natureza em Itaipu depois de Sete Quedas”, com 145 fotos de minha autoria, resultado das duas viagens que fiz ao Paraná em 2007 contratado pela Itaipu Binacional. Depois do Guia de Campo de Bonito, de 2005, este é meu segundo livro como fotógrafo.

Com texto do prestigiado jornalista ambiental Marcos Sá Corrêa, editor da revista Piauí e do site O Eco, a publicação conta histórias sobre as ações ambientais e de personagens que vivenciaram a formação do Reservatório de Itaipu no início dos anos 1980, após a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu.

Capa do livro


Entre elas está a Operação Mymba-Kuera ou “pega-bicho”, quando parte dos animais que vivam na área a ser inundada pelo reservatório foram resgatados, e a “Tekohá Añetete”, sobre os povos indígenas da região.

Por enquanto o livro não está disponível para venda, assim que tiver novidades eu posto maiores detalhes.


Cataratas do Iguaçu (PR)
Foto: © Daniel De Granville, 2007

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quinta-feira, outubro 16, 2008

Aprendendo a Observar

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.Curioso com o fotógrafo, um canário-da-terra
dá um intervalo no preparo de seu ninho
para a Primavera
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Após uma pequena pausa, é hora de voltar ao Mato Grosso do Sul. Mais uma vez, por razões bem bacanas.

No final de semana, a exemplo do ano passado, vamos fazer uma apresentação sobre observação de aves para os funcionários da MCR (Mineradora do Grupo Rio Tinto) em Corumbá, seguida de uma saída para “passarinhar” pelo Pantanal. Meu tema de destaque nas atividades serão as paisagens sonoras. A atividade é feita em parceria com a BirdLife International, organização internacional dedicada à conservação das aves.


Curiosos com o fotógrafo, um grupo de observadores de aves
dá um intervalo na atividade para sair bem na foto :-)
Foto: © Daniel De Granville, 2008


De lá seguiremos direto para Bonito, onde dos dias 20 a 26 ministraremos o Curso de Observação de Aves para os guias locais e outros interessados. A procura foi tão grande que tivemos de fazer um processo seletivo! O curso está sendo viabilizado por mais de 20 instituições locais, regionais e nacionais.

Mais notícias ao longo da semana.
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quarta-feira, outubro 08, 2008

Brasil: Medalha de Prata em Aves!

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.Jandaia-estrela, uma das 1.822 espécies de
aves presentes no Brasil
Foto: © Daniel De Granville, 2008


O final de semana que passou foi especialmente importante para os bichos. Começou em 4 de outubro (sábado), Dia Mundial dos Animais e também dia de São Francisco de Assis, o santo católico considerado patrono da bicharada.

Comemoramos a data participando do Dia da Observação de Aves, promovido pelo Centro de Estudos Ornitológicos (CEO) em homenagem antecipada ao Dia da Ave, celebrado em 5 de outubro. Apesar do tempo chuvoso e frio, não muito promissor para a atividade, saímos cedo para realizar observações na Serra do Japi e no final do dia totalizamos 75 espécies encontradas. Sem muito esforço e com clima desfavorável!

Domingo, dia de eleições municipais, duas grandes novidades confirmaram definitivamente este como “o fim de semana dos bichos”. Primeiro, a notícia de que o Brasil não ocupa mais a terceira posição mundial em número de espécies de aves. Nesta data o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CRBO) lançou a sétima Lista de Aves do Brasil, com 1822 espécies, o que nos coloca à frente do Peru e atrás apenas da Colômbia. Agora somos vice-campeões mundiais em diversidade de aves!

Falando em vice-campeonato, aqui em Jundiaí o candidato a vereador que obteve a segunda maior votação elegeu-se com uma campanha calcada essencialmente na defesa dos animais domésticos e silvestres: o novato “Leandro do Bicho Legal”, do Partido Verde (PV), obteve 3.630 votos. Bom para a cidade, bom para a bicharada, esperamos.

Bicho Legal!
Foto: © Daniel De Granville, 2004

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quinta-feira, setembro 11, 2008

Dia do Biólogo tem que ser no mato!

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.Debaixo d'água, com a câmera a 15 cm do focinho do jacaré!
Foto: © Daniel De Granville, 2008



Apesar de ter sido na semana passada, somente hoje pude registrar “oficialmente” a passagem do Dia do Biólogo, celebrado em 03 de setembro.

O motivo para a demora não poderia ter sido melhor: nesta data eu estava em campo, no meio do mato, acompanhando e fotografando colegas pesquisadores em suas atividades científicas. A maneira mais apropriada de celebrar o “nosso” dia!

Entre centenas de imagens, destaque para o fantástico encontro cara-a-cara com um jacaré-coroa debaixo d’água, cuja foto ilustra esta postagem.

Cheguei ontem à noite e no domingo é pé na estrada novamente, rumo ao Pantanal. Até a próxima!

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segunda-feira, setembro 01, 2008

Grandes Animais!

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Cara a cara com a Sucuri
Foto: © Daniel De Granville, 2008



A Galeria do Mês que vai ao ar hoje é composta por fotos de animais feitas durante minha recente viagem de 23 dias com o fotógrafo israelense Amos Nachoum, que promove expedições mundo afora através de sua empresa Big Animals (“Grandes Animais”) em busca de flagrantes inéditos da vida selvagem.

Amanhã vou para o Mato Grosso do Sul novamente, desta vez em um trabalho fotográfico com a Fundação Neotrópica do Brasil, onde registrarei o trabalho de pesquisadores em fazendas da MMX Mineração para o Projeto Reflorestar Legal. Em seguida, uma passada em Bonito para produzir algumas imagens subaquáticas.

Para ver as imagens, clique no box "GALERIA DO MÊS", localizado na coluna da direita da página principal do Fotograma. Caso tenha alguma dificuldade, por favor tente este link alternativo.
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sábado, agosto 23, 2008

Mergulhando com Botos na Amazônia

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.Um boto tenta engolir minha câmera!
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Manaus, uma da madrugada. Mais uma aventura – bem sucedida! – chega ao fim. Sentado em um confortável quarto de hotel, relembro bons e maus momentos destes 23 dias de expedição. Daqui a algumas horas pegaremos o vôo para São Paulo. Eu chego em casa logo, mas Amos Nachoum ainda tem um longo caminho a percorrer até San Francisco (EUA), onde fica apenas 5 dias e já parte para seu próximo destino: a costa do México, à procura de tubarões-brancos (aqueles do filme do Spielberg).

Hoje à tarde voltamos da última etapa da viagem pelo Brasil, fotografando botos-cor-de-rosa no município amazonense de Novo Airão. Para comemorar o sucesso da empreitada, cada um escolheu o que queria comer no jantar. Eu optei por um tradicional tacacá, Amos e John preferiram comida japonesa.

Jacaré improvisa um sashimi de cascudo
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Na postagem anterior, eu havia parado nas onças-pintadas. Nosso roteiro continuou por água, cada vez mais adentrando o Pantanal, onde procurávamos por cardumes de grandes piranhas em águas transparentes. Todas as dicas que havíamos colhido com conhecedores do assunto foram anotadas e seguidas à risca, porém nem sempre a natureza está pronta para nossos caprichos. Em resumo, o rio principal onde deságua o riacho que nós pretendíamos fotografar estava mais cheio que o habitual. Como conseqüência, o riacho estava praticamente sem correnteza, o que deixou suas águas turvas e seu leito bloqueado por enormes e quase impenetráveis ilhas de aguapés. Só encontramos um ponto interessante com água limpa já no meio da tarde, após cansativas horas procurando um acesso para nosso barco. Tudo preparado, era hora de achar as grandes piranhas. Só que elas simplesmente não estavam ali, pois segundo a equipe da Polícia Ambiental que nos apoiava, preferem os trechos rio abaixo – onde a água escura não permitia realizarmos o trabalho. Mais uma lição aprendida... Meio frustrados, mas com a certeza de que fizemos todos os esforços possíveis, voltamos ao alojamento.

A turma da Polícia Ambiental trabalhou duro...

... mas não conseguimos vencer este mar de aguapé
Fotos: © Daniel De Granville, 2008


Dia seguinte, pé na estrada o dia inteiro. Aliás, não só na estrada. O roteiro foi mais ou menos assim: (1) Duas horas de barco; (2) Cinco horas de carro; (3) Quatro horas de espera em aeroportos; (4) Cinco horas de vôo entre Campo Grande e Manaus. Começamos o dia em pleno Pantanal e terminamos na Amazônia.

Visitamos dois lugares onde os botos-cor-de-rosa se acostumaram com a presença humana e hoje são objetos de pesquisa, educação ambiental e até zooterapia. Para mim, o mais legal – além da incrível interação com os botos – foi fazer as primeiras incursões pela fotografia subaquática nestas condições de água turva. Melhor do que falar é mostrar os resultados pelas fotos.

Com a sensação de dever cumprido, é hora de pensar na próxima aventura. Mais notícias em breve!

Foto: © Daniel De Granville, 2008
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quarta-feira, agosto 20, 2008

OLHA A ONÇA!!! OLHA A ONÇA!!!

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. Lá vem ela...
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Na semana que passou, ouvimos esta empolgante expressão por nada menos do que sete vezes. Após o período em Bonito procurando sucuris, no dia 12 de agosto partimos para a Fazenda San Francisco, no Pantanal Sul, com o objetivo de encontrar e fotografar onças-pintadas. Uma vez que a força-tarefa empreendida em Bonito pelos amigos Juca, Fafe, Sérgio, Lawrence com sua equipe, a Polícia Ambiental e tantos outros foi tão bem sucedida (tivemos um saldo final de 16 encontros com sucuris em 12 dias!), as expectativas para a próxima etapa da viagem estavam lá em cima.

Chegamos na Fazenda meio apreensivos, sem saber exatamente como procederíamos para atingir nossa meta. Em uma viagem como esta, o tempo é sempre curto para cobrir temas tão específicos e imprevisíveis. Mas poucas horas depois de desembarcarmos, a nuvem de incertezas se dissipou: da carroceria de nossa caminhonete, Jacir e Dunda – nossos “homens-onça” durante o período – encontraram “Oreia”, um macho de onça-pintada que parece ser freqüentador assíduo do pedaço. Iluminado por nosso potente farolete, o bichão olhou, levantou-se calmamente, andou alguns metros e... deitou para tirar uma soneca! Aos poucos percebemos que a tal regra de “fazer o máximo de silêncio para não espantar os bichos”, como todas as outras, tem exceção. Não importa o quanto conversássemos ou disparássemos nossas câmeras e flashes, o Oreia não poderia se importar menos com nossa presença...

Cama de onça!
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Nos próximos dias o encontramos novamente por duas vezes em situações diferentes, além de avistarmos quatro outras onças – incluindo Dora com seu filhotão de cinco meses. Jacir sabe perfeitamente como procurar (e encontrar!) estes felinos. Através da análise de vários pontos das estradas da fazenda, onde espalha areia para registrar pegadas, ele consegue prever o padrão de deslocamento dos bichos e ir de encontro a eles. Simplesmente inacreditável.

Jacir em ação analisando pegadas de onça na areia
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Agora preciso desligar o computador, pois em breve nosso vôo pousa em Manaus. Amanhã estaremos no Rio Negro para a última etapa da viagem, fotografando botos-cor-de-rosa debaixo d’água. No próximo capítulo tem as histórias daqui da Amazônia e da busca por piranhas no Pantanal que terminou ontem, infelizmente não tão bem sucedida como as duas anteriores – coisas da fotografia de natureza...

"Se eu der um showzinho, quem sabe
esses caras vão embora logo?!"
Foto: © Daniel De Granville, 2008

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quinta-feira, agosto 07, 2008

Uma Dúzia de Sucuris

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.Já vimos esta e mais onze...
Foto: © Daniel De Granville, 2008


O nome já diz tudo: capim-navalha. Esta gramínea, abundante em áreas de brejo, tem folhas com bordas extremamente afiadas, onde um leve esbarrão com o dedo é o suficiente para ganhar um corte que parece ter sido feito por uma lâmina. Pois é este um dos ambientes prediletos da sucuri, a mais pesada e uma das maiores serpentes do mundo. Estou há uma semana em Bonito (MS) à procura delas, junto com o premiado fotógrafo israelense Amos Nachoum e seu entusiasmado aprendiz/assistente John.

Como se não bastasse o hábito peculiar de se esconder no meio das folhas cortantes, o período mais propício para encontrá-las é durante as horas mais quentes do dia, quando ficam expostas ao calor forte para se aquecerem. Ou seja, tenho passado os últimos dias subindo e descendo riachos e caminhando no meio do brejo lamacento debaixo do sol escaldante (o inverno passou longe daqui este ano). No final do dia os pés enrugados e brancos contrastam com as mãos e braços cheios de pequenos e inevitáveis cortes. A visão do paraíso é complementada por micuins (minúsculos carrapatos que mais parecem grãos de poeira ambulantes) e borrachudos sedentos. Nosso objetivo é conseguir imagens inéditas de sucuris – debaixo da água, de preferência. Hoje é o sétimo dia da expedição e já conseguimos encontrar doze “anacondas”, como elas são conhecidas em inglês. Mas ainda não temos as fotos que precisamos.

À noite as buscas continuam...
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Apesar das adversidades, dar de cara com as sucuris em um ambiente de paisagens maravilhosas - água cristalina cheia de peixes e vegetação com muitas aves coloridas completando o cenário - tem sido fascinante e compensa todo o esforço. Hoje tivemos o melhor encontro de toda a viagem: estávamos com o barco encalhado em uma forte corredeira, debaixo de uns troncos cheios de espinhos, quando John olha para trás e anuncia calmamente, com sotaque de gringo, mas falando em alto e bom português: “sucuri”...

Lá estava ela, majestosa, com alguma capivara azarada dentro do bucho, olhando para a gente sem entender muito bem aqueles malucos com roupas esquisitas e câmeras enormes invadindo sua intimidade. Quando nadou calmamente ao lado do nosso barco de seis metros, Amos, enterrado na lama até a cintura e rodeado por moitas do tal capim-navalha, fez os cálculos: “eu conseguia ver o corpo ao longo de todo o barco, o resto da cauda ainda ficava para trás e eu não conseguia enxergar a cabeça”. Agora é sua vez de estimar o comprimento da criatura. Quanto ao diâmetro, digamos assim: nem que tivesse um ataque de loucura e fosse tentar, eu não conseguiria abraçá-la.

Quem procura, acha.
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Amanhã a busca continua e na próxima semana é hora de deixarmos Bonito rumo ao Pantanal à procura de onças e piranhas, para depois seguirmos até a Amazônia, onde pretendemos fotografar botos-cor-de-rosa.

Sim, a foto ficou bacana!
Foto: © Daniel De Granville, 2008
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terça-feira, julho 29, 2008

Correndo que nem lobinho...


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.Lobinho (ou cachorro-do-mato) cruza apressado
pelos campos do Pantanal...
Foto: © Daniel De Granville, 2008


O segundo semestre é o período mais procurado pelos estrangeiros que visitam o Pantanal, o que tem me mantido bastante ocupado. Cheguei de lá há 3 dias, onde estava com um grupo de educadores norte-americanos (detalhes aqui) e amanhã parto novamente – desta vez, para uma daquelas viagens que prometem ser uma grande aventura.

Durante três semanas, junto com dois fotógrafos profissionais especializados em fotografia subaquática, vamos percorrer Bonito, Pantanal e Amazônia na busca por imagens inéditas de sucuris, onças, piranhas e botos-cor-de-rosa. Aguarde novas histórias e imagens!


Mais uma surpresa do Pantanal:
após 14 anos vivendo e visitando a região,
às vezes ainda encontro espécies que nunca havia visto,
como esta coruja-preta
Foto: © Daniel De Granville, 2008

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quarta-feira, julho 09, 2008

Exposições e Palestras nos EUA


Exposição no William and Ida Friday Institute for
Educational Innovation
(Raleigh, North Carolina, EUA)
Foto: © Daniel De Granville, 2008.


Às vezes, blog muito parado significa autor muito ocupado! Não é uma boa desculpa, mas pelo menos neste caso é verdadeira...

Acabei de voltar dos Estados Unidos, onde passei 20 dias entre trabalhos (apresentando palestras, realizando exposições fotográficas e participando de um workshop) e passeios. Enquanto as fotos da viagem não vêm, veja a Galeria do Mês com as 20 imagens integrantes das exposições que realizei por lá.

Exposição no Lees-McRae College
(Banner Elk, North Carolina, EUA)
Foto: © Daniel De Granville, 2008.


Minha viagem para as palestras, exposições e workshop contou com o apoio das seguintes instituições: NCSU Sci-Link, Ambiental Expedições, Instituto Sangari, Recanto Ecológico Rio da Prata, Fazenda San Francisco, Pantanal Wildlife Center e Photo in Natura.

As fotos foram ampliadas no tamanho 30x45 cm e montadas em molduras confeccionadas com papel reciclado fornecido pelo Instituto Papel Solidário (SP).

Para ver as imagens, clique no box "GALERIA DO MÊS", localizado na coluna da direita da página principal do Fotograma. Caso tenha alguma dificuldade, por favor tente este link alternativo.


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segunda-feira, junho 23, 2008

Tanawha!




A cidade de Banner Elk tinha tudo para ser uma vilinha daquelas que a gente nem percebe quando passa de carro. Com uma população estimada em 885 habitantes, distribuídos pela área municipal de 3,1 km², a primeira impressão para quem chega é de um lugar bem maior, pelo tanto de estabelecimentos comerciais e pessoas circulando nas poucas ruas, além da surpreendente presença de uma universidade (a Lees-McRay College). Acontece que sua localização, no noroeste do Estado da Carolina do Norte (EUA), torna Banner Elk muito procurada por turistas em busca das chamadas Blue Ridge Mountains, uma cadeia montanhosa que atravessa toda a porção oeste do Estado e possui altitudes de até 2 mil metros. Boa parte do trecho dentro do Estado, 755 km, é margeada pela incrível estrada-parque Blue Ridge Parkway.

É aqui que eu estou desde ontem para participar de um evento sobre educação e ciência, o Grandfather Mountain International Workshop, na Lees-McRae College. A partir de amanhã seremos 32 pessoas, entre educadores formais e não-formais, desenvolvendo atividades de investigação científica pelos ambientes naturais da região. Na terça-feira eu apresento uma palestra e inauguro minha exposição de fotos que ficará aberta ao público até o próximo final de semana.


Dr. Glenn Kleiman (diretor executivo do Friday Institute)
e Dra. Harriett Stubbs (diretora do NCSU Sci-Link)
abrindo minha primeira palestra em Raleigh
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Cheguei em Banner Elk após 3 dias em Raleigh, capital do Estado, onde na quinta-feira passada já havia feito outra apresentação e exposição fotográfica sobre o Pantanal e Bonito no sofisticado Friday Institute, da Universidade Estadual da Carolina do Norte. E já que hoje era dia de folga (domingão...), antes de começar os trabalhos do workshop conseguimos visitar uma das inúmeras trilhas da região, a "Tanawha Trail", com seus quase 22 km serpenteando pelas montanhas. O nome da trilha significa “águia” no idioma dos índios Cherokee que habitavam a região antes da chegada dos colonizadores europeus.

Paisagem vista a partir da Tanawha Trail
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Fique de olho no Blog Turismo Científico, que será atualizado diariamente nos próximos dias com informações sobre o andamento dos trabalhos por aqui.

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terça-feira, junho 03, 2008

Turismo Científico no Pantanal


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.Foto: © Daniel De Granville, 2004


O turismo voltado para a ciência, atividade em ascensão no país, ganha agora o primeiro site dedicado exclusivamente ao tema na internet brasileira. O blog “Turismo Científico”, criado e mantido pelo biólogo, fotógrafo e guia naturalista Daniel De Granville Manço, está no ar desde o dia 3 de junho.

Como projeto de conclusão do curso de Especialização em Jornalismo Científico, oferecido pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas – SP (Labjor - Unicamp), Daniel desenvolveu o site de forma voluntária. Todas as informações foram obtidas e compiladas sem qualquer espécie de patrocínio ou contrapartida por parte das instituições mencionadas, garantindo assim a isenção e lisura dos dados apresentados.

No blog estão disponíveis informações sobre a história do turismo científico no Brasil e no Pantanal (desde os primórdios da atividade com os viajantes-naturalistas do Século XIX), os projetos em andamento atualmente, os destinos e operadoras de turismo que oferecem tais programas, entrevistas com especialistas na área (operadores e pesquisadores e turistas), depoimentos, reportagens, links e outros assuntos.

O endereço do blog Turismo Científico é
www.cienciaeturismo.blogspot.com
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quarta-feira, maio 28, 2008

Aranhas no Jardim, Parte 3!


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.Em breve teremos novos moradores em casa...
Foto: © Daniel De Granville, 2008


A saga da postagem de hoje começou em novembro passado, quando contei a história da aranha-armadeira que havia aparecido no jardim de casa. Semanas depois, voltei ao tema quando uma tarântula (Lycosa) trouxe a família para passear no mesmo lugar.

Pois há alguns dias aconteceu uma daquelas histórias que veio reforçar outra idéia sobre a qual sempre comento: não adianta nada, para um fotógrafo de natureza, dominar a técnica fotográfica e os aspectos da vida selvagem, ter paciência e se manter informado, se a SORTE e o ACASO não estiverem ao seu lado!

Ao lavar, no jardim de casa, o terrário que havia usado para fotografar o nascimento das cobras (ver aqui), de repente saiu do gramado uma aranha arrastando pelas fiandeiras sua enorme ooteca, um tipo de casulo dentro do qual estão dezenas (às vezes centenas) de ovos. Provavelmente estava escondida sob a vegetação e foi surpreendida pela água que eu despejei na grama. Daqui a alguns dias eclodirão as pequenas aranhas, que irão subir no dorso da mãe em uma cena semelhante à do capítulo anterior desta história.

Parei o serviço, busquei a câmera e registrei estas fotos, para depois deixar a minha inquilina seguir livremente seu caminho pelos gramados do nosso terreno.


Foto: © Daniel De Granville, 2008

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terça-feira, maio 06, 2008

Mais duas fotos premiadas!


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.Menção Honrosa - Melhor Registro
Concurso Avistar 2008
Foto: © Daniel De Granville, 2003


Foram anunciados ontem os resultados do 2° Concurso Avistar – Itaú BBA de Fotografia "Aves Brasileiras", o maior evento brasileiro na atualidade voltado especificamente à fotografia de natureza. Na edição anterior tive uma foto premiada com Menção Honrosa na categoria “Melhor Foto”. Desta vez foram dois prêmios para imagens de minha autoria: Menções Honrosas nas categorias “Melhor Foto” e “Melhor Registro” para as imagens exibidas nesta postagem!

Em suas duas edições, o concurso julgou mais de 12.000 fotografias e premiou 57 fotógrafos, sendo que destes, apenas dois tiveram três imagens premiadas – eu sou um deles, o outro é o gaúcho Renato Grimm.

Confira aqui os resultados finais.


Menção Honrosa - Melhor Fotografia
Concurso Avistar 2008
Foto: © Daniel De Granville, 2006

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quarta-feira, abril 30, 2008

Ninho de Serpente


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.Filhote de serpente toma o primeiro fôlego
após romper a casca do ovo
Foto: © Daniel De Granville, 2008



Nos cursos e palestras que sou convidado a proferir sobre fotografia de natureza, gosto de enfatizar exemplos práticos com base na minha vivência, em detrimento de conceitos puramente técnicos. Afinal, na maioria das vezes estes são facilmente encontrados nos livros ou na internet, enquanto experiências pessoais são menos difundidas.

Um dos assuntos que abordo refere-se à importância de se manter constante contato com pessoas que vivem perto de ambientes naturais, cujo conhecimento é de grande valia para quem quer otimizar uma saída fotográfica. Afinal, quem está junto à natureza todo dia sabe muito mais sobre as plantas ou os hábitos dos animais daquela região. E assim começa a história de hoje, que vem confirmar esta idéia.

Há cerca de dez dias recebi um e-mail do proprietário de uma chácara vizinha, onde ele contava a história de uns “ovos desconhecidos” que apareceram sob as pedras às margens da estrada que passa perto de sua casa. Quem os descobriu foi a filha de seu caseiro, enquanto aguardava o ônibus para ir à escola, já que os tais ovos estavam bem debaixo do local onde ela costuma se sentar e esperar. Junto à mensagem, uma foto tirada por ele e um comentário: “acho que são de cobra...”.

Respondi à mensagem dizendo que tinha muito interesse em fotografar a cena, em especial quando os filhotes (seja lá do que fossem) estivessem nascendo. E assim comecei o trabalho investigativo, outro dos assuntos que ressalto em minhas falas: repassei a foto para alguns colegas herpetólogos (especialistas em répteis) e comecei as perguntas. Do que são? Quanto tempo levam para eclodir? Há risco em ficar perto deles (para nós e para quem estiver lá dentro)? Uma simples foto era muito pouco para responder todas estas questões, portanto a história ficou no ar. Mas uma coisa já estava certa: eram ovos de serpente.

Segunda-feira pela manhã, feriado nacional, acabo de chegar ao meu escritório do outro lado da cidade e o vizinho me telefona. “Daniel, está nascendo – e é cobra mesmo! Você vem fotografar?!”. Era uma chance imperdível, então mesmo com trabalho acumulado e a tentação de realizá-lo em ritmo de feriado, adiei os compromissos e voltei pra casa, retornando 12 km para buscar as câmeras e seguir para o local. Chegando lá, todo mundo curioso, em parte pelo privilégio de estar presenciando este fenômeno natural, em parte devido à tralha toda que eu tirei do carro. Finalmente eu ia ver o tal ninho de cobra!

Quando tiraram a pedra que os escondia, lá estavam nove ovos branquinhos, um deles meio rachado. “Uma já estava nascendo, mas se assustou com a gente e voltou pra trás. É cobra-coral, deu pra ver direitinho os anéis vermelhos, brancos e pretos”. Apesar de meio frustrado, decidi tirar fotos do ninho – só aquela cena já era bonita o bastante para merecer registros. Enquanto fotografava, sentia meu computador no escritório me chamando e avisando sobre o tanto de e-mails que estavam dentro dele esperando minha resposta...

Vista geral do ninho no momento de eclosão de um dos nove ovos
Foto: © Daniel De Granville, 2008


“Daniel, veja o que você quer fazer, eu vou tirar isto daí assim que nascer o primeiro filhote. Vou levar para outro lugar e soltar, que eu não sou de matar bicho. Mas se eu deixar aqui, é perigoso para as crianças que esperam o ônibus e é perigoso para as cobras, já que está na beirinha da estrada e porque boa parte dos caseiros por aqui não perdoa uma cobra invadindo sua varanda”.

Lá veio ele com um tipo de aquário, já com o fundo forrado por terra, umas pedras destas que cobra adora esconder embaixo e um pouco de capim. “Você quer levar pra tirar suas fotos e depois soltar as cobrinhas em um lugar seguro?”, ele me perguntou. Pensei, ponderei e aceitei a oferta. Primeiro, pois como biólogo sabia que neste estágio avançado de desenvolvimento dos ovos, manipulá-los cuidadosamente não causaria danos aos filhotes lá dentro. Segundo, pois estava bem assessorado por especialistas que podiam me orientar sobre como proceder nas próximas etapas. Terceiro, porque certamente daria mais chances de sobrevivência àquelas serpentes se cuidasse delas de forma mais criteriosa. Finalmente, pois como fotógrafo sabia da importância – tanto do ponto de vista artístico como de registro biológico – em eternizar este evento.

Assim fui pra casa (o computador ainda me chamando...) e comecei a agir. Estudei o melhor ângulo, a iluminação adequada, tudo levando em conta também o conforto das criaturas que estavam se formando lá dentro. Fiz uns cálculos e programei o disparador da câmera para tirar uma foto a cada intervalo de tempo. Testei tudo várias vezes, ativei o sistema e corri para o escritório, deixando o equipamento trabalhar sozinho e as cobrinhas idem.

Chegando lá, a primeira coisa que fiz foi procurar o colega e amigo Renato Bérnils, zoólogo que me deu a primeira assessoria quando toquei no assunto inicialmente. Eu queria saber se o ambiente estava adequado para o bem estar dos animais, se havia uma previsibilidade sobre quanto tempo demorariam a nascer, se há um período do dia mais propenso para a eclosão, etc. Precisava saber de tudo isto para me programar, afinal os trabalhos paralelos continuavam e eu precisava garantir boas fotos sem incomodar muito os filhotes. Já de cara, Renato me confortou: “Vocês tomaram a atitude certa, sem dúvida, pois do contrário esses bichos não teriam chance alguma”. “Excelente!”, pensei.

A esta primeira mensagem, seguiu-se uma troca frenética de e-mails com detalhes: eu enviava relatos e fotos, Renato respondia com alguma informação científica curiosa. Coisas do tipo: “muitas cobras pequenas podem ‘escalar’ vidros de terrários se tiverem acesso a água; com o corpo molhado elas conseguem aderência ao vidro e vão subindo na maior cara-de-pau. Costumo dizer que as cobras são especialistas em fugir do cativeiro, e por isso sempre recomendo tampas bem fixas e pesadas, sem fresta alguma”. Ótimo... Como eu ia tampar o terrário se tinha de manter a caixa aberta por causa da câmera?! Enfim decidi arriscar, já que a tralha toda – ovo, cobra, tripé, câmera, flash – estava isolada em um cômodo protegido da casa, com a fresta sob a porta devidamente fechada com um pano para evitar surpresas. E meus gatos curiosos para saber o que tinha dentro daquela sala, sem poder entrar...

Assim os dias se passaram. Várias vezes o aglomerado de ovos ficou horas e horas sem qualquer ação, e as centenas de fotos tiradas naquele período eram absolutamente iguais. Em outras ocasiões, a atividade era intensa e a câmera não dava conta de captar todas as boas cenas. Eu acordava no meio da madrugada para trocar as baterias e cartões de memória, sempre na penumbra para não incomodar o ninho. Ou então tinha de ir para casa no meio do dia para repetir este processo.


Estúdio improvisado em um cômodo da casa
Foto: © Tietta Pivatto, 2008


Já estava me esquecendo: até este momento não havia certeza sobre a identificação precisa da espécie. Ao contrário da maioria das serpentes peçonhentas brasileiras, cuja identificação é relativamente simples para quem tem conhecimentos básicos sobre o assunto – como no caso das jararacas e cascavéis – as chamadas “cobras corais” (nome popular dado às espécies com padrão de cores composto por anéis vermelhos, pretos e brancos) são mais difíceis de distinguir entre “verdadeiras” (peçonhentas) e “falsas” (inofensivas).As primeiras imagens permitiam uma quase garantia de que não eram corais verdadeiras com seu poderoso veneno. Mas “quase” ainda deixa uma margem de preocupação... Felizmente as corais são muito calmas e nada agressivas, porém em mais de uma noite tive sonhos de que as previsões do Renato haviam se concretizado, que as ditas cujas tinham fugido do terrário e povoado a casa. E se fossem verdadeiras?!?! Logo veio sua resposta, baseada nas fotos detalhadas que fiz de um filhote: “a espécie é Oxyrhopus guibei (Colubridae, Xenodontinae, Pseudoboini), absolutamente inofensiva”. Mais um alívio! Eram falsas corais...

Esta espécie é bastante comum no estado de São Paulo, sendo mais ativa durante o crepúsculo e à noite, quando sai em busca de presas como roedores silvestres, lagartos e filhotes de aves, geralmente mortos por constrição (esmagamento, de forma semelhante às sucuris). Sua semelhança com as corais verdadeiras (gênero Micrurus) é uma ótima e eficiente estratégia de defesa, já que assusta seus potenciais inimigos devido à semelhança com algo perigoso. Outra curiosidade que o Renato nos trouxe é que “para cortar a casca membranosa do ovo, fazendo aquela abertura que vocês registraram em todos os ovos, as cobrinhas nascem com uma estrutura pontiaguda na ponta do focinho, acima da abertura da boca. É uma fina lâmina triangular, apropriadamente chamada de ‘egg-tooth’, que rompe a casca do ovo e logo cai do focinho da cobra”.

A história acabou (pelo menos para nós, já que as cobras ainda têm toda sua vida pela frente) na segunda-feira, 28 de abril, exatamente uma semana após o início dos registros no dia 21. E terminou muito bem: ao contrário do que acontece na maioria das vezes, todos os nove ovos originaram filhotes saudáveis. E todos ganharam a liberdade rapidamente, na medida em que iam nascendo. Sempre seguindo a orientação do especialista, conciliando com a realidade e preocupação dos moradores locais, todas foram devidamente soltas por mim e Tietta em uma área de mata ciliar, próxima ao local original mas longe de estradas e casas (apesar de não apresentarem perigo para os humanos, os humanos poderiam ser um perigo para elas).

Ganhando a liberdade
Foto: © Daniel De Granville, 2008


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Seqüência de eclosão dos ovos,
com suas respectivas datas e horários de nascimento.
Foto e arte: © Daniel De Granville, 2008
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